Cumpriu-se hoje mais uma reunião ordinária da Câmara Municipal de Mafra. Num país onde a tradição democrática não está ainda completamente interiorizada, – veja-se a situação da justiça, por exemplo – seria salutar, normal e compreensível que a câmara municipal, enquanto gestão democrática representativa de todos os mafrenses, se associasse às comemorações do 25 de Abril que ocorrem nessa data em todo o país.
Não é assim em Mafra. A Câmara de Mafra há muitos anos que se alheia desta data, embora, naturalmente, e bem, não se iniba de beneficiar dos meios que a democracia e o estado de direito lhe propicia. É um pouco a máxima de alguns portugueses, aproveitamos bem “da coisa”, mas não contribuímos.
Só dos vereadores do PS (únicos vereadores da oposição) se ouviu a palavra 25 de Abril, assim, infelizmente, só podemos citar as suas palavras.
Pela voz de José Graça (PS):
No início desta intervenção sobre os 44 anos que passam sobre o golpe militar da madrugada do 25 de Abril de 74, o Partido Socialista de Mafra não pode desde de já o de voltar a invocar a memória de dois Mafrenses que se destacaram na ação desse dia; o Coronel Marques Júnior e o Major Vítor Alves ambos já falecidos, infelizmente, assim como a uma justa evocação a tantos e tantos homens que estiveram na Guerra Colonial, qual incubadora da revolução. Justíssimo será também o invocar a memória de tantos e tantos Homens e Mulheres civis e pacifistas que lutaram internamente para que o derrube de um Governo ditatorial viesse a romper a aurora de um dia. Uns e outros com diversas origens mas muitos oriundos do Concelho de Mafra. […] 44 anos vão decorrer sobre o 25 de Abril de 74 na próxima quarta-feira. 44 anos sem que, na Vila de Mafra, se celebre Abril com a dignidade que data merece. Pode-se aqui querer invocar a liberdade individual e de associação que cada cidadão tem o direito a assumir para participar ou contemplar essa comemoração. É um fato. Com também é um fato que a não passagem da mensagem do que custou e custa a liberdade torna esse já longínquo dia como um dia banal que muitas das novas gerações o poderão apenas invocar …. Porque é feriado. Perante tantos e tantos perigos que uma jovem democracia corre, perante tantos e tantos populismos fáceis que grassam por essa Europa fora e que já começam a aparecer em Portugal, é para o Partido Socialista, pedra basilar que a história se faça e se evoque com todo o sentido de pertença que a Liberdade merece. […] O caminho implica compromissos indispensáveis. Compromissos como os de combater o populismo, o nacionalismo. […] o de não ceder perante os novos-mundos da liberalização selvagem do mercado de trabalho […] o de saber resistir às máquinas de desinformação, da sobranceria do poder económico face ao interesse público, da alegada corrupção dos sistemas políticos e judiciais, à liberdade de imprensa, da judicialização da política à politização da justiça. […]
Pela voz de Rogério Costa (PS):
Estamos a comemorar 44 Anos do 25 de Abril, sendo um golpe militar teve na estrondosa adesão popular a plataforma para um estado superior […] Há 44 anos o programa do MFA dava o mote “Democratizar, Descolonizar, Desenvolver”. Hoje passados quatro décadas, o Portugal democrático não devia ter nada a ver com o Portugal da ditadura mas, infelizmente, nos últimos anos, o 25 de Abril parece ficar distante. Os desencantos de hoje e respectivas frustrações, são fruto de sucessivas coligações de interesses e conjugação de fatores internos e externos que governaram e governam o país. […] No 25 de Abril de 1974 as pessoas, os portugueses, quiseram participar no futuro de Portugal. Quem deixou, quem permitiu, (como e quando) que, nos dias de hoje, sejam os “mercados” a mandar em nós? […] Para nós democratas, o verdadeiro 25 de Abril assentava e assenta nos direitos democráticos, na liberdade e deveres do cidadão, dignos dum estado social e que graças à sua luta estão consagrados na constituição da República Portuguesa. […] Com estas políticas não vamos a lado nenhum, por isso está na hora de exigirmos ao actual presidente da República que a Constituição Portuguesa seja cumprida. É necessário acabar de vez, com as aves de rapina que proliferam ainda neste país. Urge arrepiar caminho. Uma sociedade destas não é apenas pouco higiénica e irrespirável.