Malveira | No Largo da Feira (sem feira) Cristina Ferreira iguala Beatriz Costa

 

A Malveira representa o centro da região saloia vista do lado do concelho de Mafra, talvez por isso, embora depois da reabilitação daquele que era conhecido como o Largo da Feira, remetendo a sua designação para um dos símbolos máximos da vila, a Feira da Malveira, tenha deixado a zona nobre da vila e o largo tenha mudado de nome, a tradição saloia manteve-se. Deslocalizou-se a feira do Largo da Feira, mas o agora reabilitado Largo mantém no nome a “raça” saloia, uma vez que o seu anfiteatro foi batizado, a partir de hoje, com a designação de Anfiteatro Cristina Ferreira.

Pode dizer-se que Cristina Ferreira, a mediática apresentadora de Big Brothers  e de programas televisivos para domésticas e reformados bateu hoje aos pontos Beatriz Costa, a mulher do cinema que representava até aqui em exclusivo absoluto, o antigo espírito saloio da Malveira. Pode dizer-se que a velha Malveira viu hoje nascer a mais badalada, uma Malveira mais mediática, a milionária Malveira 1.0.

As obras – que se eternizaram por quase dois anos, espaço de tempo em que o largo e as ruas adjacentes se transformaram num enorme estaleiro de obras e tendo resultado na saída definitiva da Feira da Malveira do seu espaço tradicional – incluíram a recuperação da Casa Canas (atual centro cultural) e do chafariz (que mais do que reabilitado, foi refeito) tendo a obra custado mais de 7 milhões de euros.

O espaço foi nivelado e passou a dispor de um anfiteatro ao ar livre, de duas tabelas de basquetebol e de um parque infantil, cuja localização e opções cromáticas o transforma uma barreira visual relativamente à outra inovação do espaço, a já inaugurada reabilitação da Casa Canas. O espaço mantém uma valência de estacionamento, que será pago e a contrastar com o cheiro a novo dos novos equipamentos, no casco do Largo mantêm-se casas antigas, com rebocos antigos, com velhas e desgastadas cores, com marquises à portuguesa, com muitos e diversos painéis publicitários a encimarem a entrada dos estabelecimentos comerciais e com os tradicionais cabos negras das telecomunicações a percorrerem as paredes.

Inaugurado num momento em que a inflação parece reaparecer no horizonte, num momento em que a guerra na Europa parece representar um importante ónus financeiro para o país e para a região, esta obra faraónica no preço, mas nem tanto, nas funcionalidades que acrescenta, ou nas oportunidades de desenvolvimento que alavanca, nem na opção estética e arquitetónica que representa, esta obra poderá representar um gasto perdulário e uma utilização pouco racional dos fundos públicos – cerca de 7 milhões de euros – dos quais, cerca de 4 milhões couberam à empresa AECI, a empresa que ganhou o concurso, detida pelo empreiteiro com maior volume de negócios com a Câmara de Mafra.

Se quisermos comparar esta obra com outras obras realizadas no país, cujo custo tenha andado em torno dos 7 milhões de euros, podemos citar a ligação rodoviária da A8 a área empresarial em Torres Vedras (em projeto), mais do que os lucros da REN (Rede Elétrica Nacional) no primeiro trimestre de 2022, menos 1 milhão do valor total que a Organização Mundial de Saúde (OMS) libertou do seu Fundo de Contingência para Emergências para assistir 10,6 milhões de pessoas, que precisam de ajuda de emergência na região do Sahel (“faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5 400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; e entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste”).

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