Inês Fragata (Mafra) foi premiada com a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para Mulheres na Ciência

Ao jeito de comemoração do Dia Internacional da Mulher, que hoje se assinala, damos conta da entrega dos prémios correspondentes à 17.ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, que teve lugar em finais de fevereiro.

Entre as quatro cientistas portuguesas premiadas encontra-se Inês Fragata, de 35 anos e residente em Vila Franca do Rosário, no concelho de Mafra.

Em 2015, Inês Fragata doutorou-se em Biologia Evolutiva pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, fez pós-doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência, sendo atualmente é investigadora de pós-doutoramento no grupo Ecologia Evolutiva do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Ao Jornal de Mafra Inês Fragata referiu que ficou “muito feliz com este prémio, porque é um reconhecimento do trabalho que fiz no passado e que a pesquisa que quero desenvolver é importante e vai contribuir para a sociedade.

Uma das questões a que o projeto da investigadora pretende responder é, a de saber “qual o impacto que o cádmio presente no solo tem em herbívoros?”. O projeto estudará o impacto do metal pesado cádmio na cultura do tomateiro e nos ácaros-aranha – pequenos herbívoros que representam uma grande praga agrícola, alimentando-se de centenas de espécies de plantas provocando milhões de euros de prejuízos a nível mundial.

Inês Fragata respondeu a algumas questões colocadas pelo Jornal de Mafra.

Jornal de Mafra (JM) – As mulheres já assumiram a posição que lhes cabe no quadro da investigação científica? E em Portugal, que caminho ainda falta fazer?

Inês Fragata (IF) – Acho que ainda há um longo caminho a percorrer seja na Europa como em Portugal em termos de igualdade de géneros, na ciência e em muitos sítios. Apesar de em Portugal haver uma percentagem elevada de mulheres a nível do mestrado, doutoramento e postdoc, o número de mulheres investigadoras principais ou professoras universitárias é claramente abaixo do expectável. Apesar de recentemente haver um movimento que está a chamar a atenção para esta discrepância, este movimento está ainda na infância e, portanto, ainda falta mudar várias mentalidades para que se possa ter uma representação mais igualitária dos dois géneros na investigação.

JM – A que projetos se tem dedicado na sua área de investigação?

IF – Desde do meu mestrado que estudo como é que os organismos se adaptam a novos ambientes, utilizando uma técnica chamada evolução experimental (que permite ver mudanças evolutivas a ocorrer em tempo real), combinada com análises genéticas, modelação teórica e estatística. Durante o doutoramento estudei o impacto de ambientes anteriores (ou seja onde as populações passaram muito tempo), o acaso e a selecção natural durante a colonização de novos ambientes. Neste estudo, em que usei uma espécie de mosca da fruta, demonstrei que o impacto da história e da selecção natural varia consoante o nível biológico a que se estuda, e que o papel da selecção natural pode ser muito homogeneizador levando à perda de diversidade genética, que é muito importante para as populações poderem responder a desafios ambientais futuros. Durante o meu primeiro postdoc, trabalhei com leveduras e estudei como é o efeito das mutações genéticas (erros aleatórios durante a replicação do DNA) variam consoante o ambiente em que leveduras vivem, e quais as consequências para o seu potencial adaptativo. Agora estou a estudar o impacto que o cádmio e a presença de competidores têm na evolução de ácaros-aranha (pragas agrícolas) e na sua resposta a novos desafios ambientais, como alterações climáticas.

JM – Como olha para as alterações climáticas pelas quais o planeta está a passar? Como carateriza a situação portuguesa?

IF – As alterações climáticas são um problema urgente e Portugal não é excepção. O aumento dos eventos climáticos extremos (frio ou calor não característicos, presença de tempestades) é um dos sinais mais óbvios. Neste momento, se queremos fazer alguma coisa para melhorar, é preciso mais do que só reciclar embalagens, é preciso mudar o nosso estilo de vida e optar por soluções que nem sempre são fáceis, como alterar a quantidade de coisas que compramos e consumimos e utilizar meios de transporte que produzam menos emissões, para além da reciclagem, claro.

JM – Qual é sua relação com o concelho de Mafra?

IF – Neste momento eu vivo em Vila Franca do Rosário e faço parte do Especulatório, um grupo que esteve a colaborar com o Clube Hiperactivo para dinamizar tardes de jogos de tabuleiro, já colaborámos também com a Câmara Municipal de Mafra para as Jornadas da Juventude de Mafra.

De entre as mais de 97 candidatas à edição deste ano, além de Inês Fragata, o júri científico presidido por Alexandre Quintanilha, distinguiu ainda as investigadoras:
Joana Carvalho, da Fundação Champalimaud
Margarida Abrantes, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Liliana Tomé, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

Cada uma das investigadoras recebeu um prémio individual de 15 mil euros.

 

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