Mafra || O hospital de campanha que afinal não está a ser instalado, os falsos casos de infeção no concelho e o circuito infernal da comunicação

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Uma fonte ligou hoje para o Jornal de Mafra fornecendo-nos uma informação simples: no quadro das ações que estão a ser implementadas para fazer frente à pandemia de coronovírus, estaria a ser instalada em Mafra, na Escola das Armas, um hospital de campanha destinado a receber doentes ou indivíduos sob suspeita de terem contraído uma infeção provocada por aquele vírus.

Fizemos aquilo que fazemos sempre nestas circunstâncias, contatámos as entidades com competência para fornecer informação, as entidades a quem cabe dar corpo à letra da lei de imprensa e à liberdade da imprensa no acesso às fontes.

Como é habitual em Mafra, este é o momento em que o Jornal de Mafra é encaminhado para um estranho labirinto.

Contratámos diretamente o oficial da Escola das Armas encarregue das relações com a imprensa. Este oficial mostra-se desconhecedor desta matéria, reencaminhando-nos para o Chefe de Apoio ao Comando da Escola das Armas. Contactada esta entidade, pedem-no para ligar mais tarde.

Enquanto esperamos, ligamos para a Repartição de Comunicação, Relações Públicas e Protocolo do Exército (Lisboa). Atende-nos o sargento ajudante Silva, que afirma não ter de tratar desse tema, que não tem de saber de tudo o que se passa no exército e que o máximo que pode fazer é fornecer-nos o contacto da Escola das Armas, referindo não ter “conhecimento de tudo o que se passa em todas as instituições do exército“, que devia tentar contactar novamente as Escola das Armas, até porque não tinha informação para nos dar e “que não podia ser ele a recolher a informação por via indireta” ou ainda, numa frase lapidar, “[que não podia] ser a sua tábua de salvação para a informação“. 

Entrámos depois novamente em contacto com Chefe de Apoio ao Comando da Escola das Armas. Atendeu-nos um coronel, que entre muitas e estranhas gargalhadas quando lhe relatámos o episódio anterior, se recusou a confirmar ou a desmentir a existência da montagem de um hospital de campanha no espaço da Escola das Armas, destinado a atender doentes com coronavírus, remetendo-nos novamente para a Repartição de Comunicação, Relações Públicas e Protocolo do Exército (Lisboa).

Decidimos então voltar ao contacto com o mafrense sargento ajudante Silva, pedindo-lhe que passasse a chamada a um oficial qualificado da Repartição de Comunicação, Relações Públicas e Protocolo do Exército. Em contacto com o Tenente-Coronel de Cavalaria Luís Pimenta, Chefe da Secção de Comunicação e Relações Públicas do Exército, ouvimos, pela primeira vez neste dia, alguém com verdadeira capacidade para desempenhar as funções que lhe estão distribuídas. Pediu-nos para aguardarmos uma chamada sua, pois ia inteirar-se dos aspetos relacionados com a simples questão que passámos o dia a colocar a vários responsáveis do exército português. E a resposta chegou pouco tempo depois, clara e substantiva, não estava a ser montado na Escola das Armas qualquer hospital de campanha.

Apetece gritar, viva Portugal, viva a difusão de informação no exército português e viva a facilidade com que a comunicação social tem para aceder à informação em Portugal e muito particularmente em Mafra, mesmo que “Mafra” esteja a trabalhar em Lisboa.

Passado este episódio, foi possível tomar conhecimento de um comunicado publicado na Escola José Saramago, onde se afirma, preto no branco, “A Presidente da CAP [Comissão Administrativa Provisória], Perpétua Franco, informa que, até ao momento (dia 11-03-2020, 20 horas), não tem informação da existência de qualquer caso suspeito ou confirmado de infeção por coronavírus na comunidade escolar. Mais informa, que qualquer alteração a esta situação, será dada a conhecer por esta via“. O Jornal de Mafra já tentou, por diversas vezes e por diversas vias, entrar em contacto com a direção desta escola, sempre em vão, razão pela qual, decidimos abordar vários alunos da escola e outros elementos que lá desempenham funções. Todos eles confirmaram cabalmente a informação constante no comunicado da escola, desmentindo assim uma informação falsa que circula nas redes sociais e em outros meios, segundo a qual teria havido alunas e docentes daquela escola infetados com coronovírus.

Também nas redes sociais, cada vez mais fonte de boatos e de desinformação, surgiu uma informação referindo a existência de um doente infetado por coronovírus, de nacionalidade alemã, que teria estado hospedado no Hotel Vila Galé da Ericeira, de onde teria sido, recentemente, transportado para um hospital da capital. O Jornal de Mafra esteve hoje em contacto com o assistente da direção do hotel, Ângelo Neto, o qual confirmou ao JM,  ter havido um cidadão alemão, ali instalado, já com antecedentes de patologia respiratória, que teria mesmo sido sujeito a tratante cirúrgico no passado, hóspede que se terá sentido mal, sendo transportado normalmente para um hospital de Lisboa. Assim esta é mais uma das informações falsas que circulam nas redes sociais.

O Secretario de Estado da Saúde alertou entretanto, esta tarde, para as noticias “muitas vezes não confirmadas e outras vezes completamente falsas que têm inundado o nosso espaço mediático e que em nada contribuem para a informação das populações

A informação que o JM obteve hoje de fonte oficial, revela que não há nem houve até agora no concelho de Mafra, qualquer doente suspeito ou confirmado com infeção por coronavírus.

 

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