Mafra | Muitos milhares de pessoas assistiram ontem ao concerto dos reabilitados carrilhões [Imagens com áudio]

Foi um verdadeiro mar de gente, aquele que ontem inundou Mafra para assistir à (re)inauguração dos carrilhões do Palácio Nacional de Mafra. A publicidade paga pela Câmara Municipal de Mafra em órgãos de comunicação social de escala nacional, os flyers apócrifos que foram distribuídos pelas caixas do correio do concelho, os autocarros gratuitos assegurados pela autarquia, a polémica nacional por que passou esta reabilitação, a passagem dos 300 anos da construção do palácio, a elevação a património da UNESCO e a recentemente anunciada instalação do Museu da Música em Mafra muito terão contribuído para a mole de gente que nos visitou ontem.

Tendo em consideração as poucas condições que o concelho tem para receber tanta gente, nem teria de ter, diga-se, uma vez que eventos desta natureza são absolutamente excecionais, tudo correu muito bem. Os carros distribuíram-se por todos os “buraquinhos” e o mesmo aconteceu com as gentes. O facto se ter tratado de um espetáculo exclusivamente sonoro, terá também contribuído para que tanta gente nos visitasse, uma vez que, em bom rigor, era possível assistir a espetáculo de olhos fechados e ouvidos atentos, com o palácio à vista ou não.

Para os residentes mais velhos, este foi seguramente um acontecimento vivido com o coração e com muita emoção. No fundo, a vila de Mafra é o seu Convento/Palácio e pouco mais, sendo o ribombar dos carrilhões, um acontecimento que marca os dias e que contribui fortemente para o sentimento identitário destas populações. No entanto, os residentes mais jovens ou mais recentes, e aqueles que vindos de outras paragens, ontem assistiram ao retomar dos concertos de carrilhão, pereceram-nos exigir um pouco mais do espectáculo, e para alguns desses, que ontem ouvimos no terreiro, as espetativas que a publicidade do evento prometiam, terão saído relativamente goradas. Na verdade, em Portugal, por muito que isso custe aos nossos egos culturais, um concerto de carrilhão e um concerto de música rock, são alvo de atenções e de públicos, quer qualitativa, quer quantitativamente diferentes. Esta é uma realidade que os programadores mafrenses terão de ter em conta a partir de agora. Também a ligação quase natural do carrilhão à basílica e por essa via, à igreja católica, aconselhará a algumas cautelas nos convites demasiado frequentes a entidades daquele credo religioso, nacionais e estrangeiras, ligadas à extrema-direita católica, algo que poderá vir a constituir uma marca menos positiva.

Estão de parabéns todos aqueles que contribuíram para que o carrilhão sul voltasse a tocar. Ficam estes agora reféns da obrigação de pugnar pela perenidade e pela qualidade dos concertos, pela boa manutenção dos carrilhões e pela adequação das programações à nova realidade constituída pela inscrição do real edifício como património mundial da UNESCO e pela próxima instalação do Museu da Música no edifício.

Foram 20 anos de silêncio e de degradação, 20 anos alegremente perdidos para o património, para a cultura e para a economia do concelho e do país. Assim, as felicitações que agora todos endereçamos ao atual governo da república e ao atual Presidente da Câmara de Mafra, terão de ser mitigadas pelas fortes e merecidas criticas ao então vereador da Câmara de Mafra e ao depois deputado da nação, Hélder Sousa Silva, bem como aos muitos Ministros, Secretários de Estado da Cultura e Primeiros Ministros que passaram pelos cargos que desempenharam, sem olhar para este lado do país, sem olharem para este património, só o fazendo agora, uns por serem muito pressionados, e o(s) outro(s) porque os dividendos políticos destes eventos são demasiado importantes, para que se pudessem manter silêncios cúmplices.

A criação de uma nova vila de Mafra virada para a música, palco de grandes eventos, foco de uma centralidade cultural nacional e europeia nessa área, será um sonho muito difícil de realizar, exigiria muitos anos de trabalho, muita sinergia e sobretudo, uma inteligência política e uma abertura ao mundo, que não nos parece existir por aqui, ainda.

Finalmente, ao Jornal de Mafra não foi facultado o alinhamento da cerimónia, algo nos teria facilitado a tarefa, como as entidades organizadoras bem sabem. No entanto, facilidades é algo que o Jornal de Mafra nunca espera, quando a edilidade está envolvida na organização de eventos que cobrimos. Em sentido contrário, deixamos aqui os nossos agradecimentos aos serviços do Palácio Nacional de Mafra, sempre eficientes e colaborantes com a imprensa, de resto, como compete e ocorre com a generalidade das entidades públicas em Portugal e no resto da Europa civilizada.

 

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