Jornal de Mafra – Quem é Alexandre Nascimento e qual é a sua relação com o concelho de Mafra?
Alexandre Nascimento – Sou empresário na área da importação-exportação, tenho 52 anos, nasci em Lisboa, sou pai de dois filhos, fiz o meu percurso escolar e cresci na linha de Cascais e faz agora 20 anos, optei por vir viver para Mafra, como tantas outras pessoas. Tenho já uma significativa costela saloia, gosto do concelho e da qualidade de vida que ele proporciona. Já sinto o concelho, embora também com o sentido crítico apurado que sempre tive ao longo da minha vida. Embora considere que Mafra é um concelho com uma qualidade de vida acima da média, e onde se vive bem, considero também que há muito por fazer, havendo muitos problemas que não são visíveis para a maior parte das pessoas.
JM – Como é que chegou ao Aliança?
A.N. – Até aqui, não tive vida política ativa. Certo é adorar política desde que me conheço, lembro-me de ter 15 anos e de a minha família estranhar ver-me frente à televisão a assistir a debates políticos, mas não me pergunte porquê, pois eu, ainda hoje não consigo explicar cabalmente as razões para isso ter acontecido. O facto de ter formação na área da língua portuguesa, de adorar a comunicação e as palavras, de me sentir muito mobilizado por pessoas com boas capacidades oratórias e argumentativas, serão fatores que poderão ter contribuído para este meu gosto pela política. Já naquela idade havia alguns políticos que me ocupavam o tempo e a atenção.
JM – A que políticos se refere?
A.N. – Mário Soares, Sá Carneiro, sem qualquer dúvida, estes dois homens, embora com uma carteira de argumentos diferente, ambos tinham uma capacidade de argumentação de tal monta, que nos prendia o olhar e a audição. Mais tarde, até por ser mais novo, gostei muito do discurso de Pedro Santana Lopes, exatamente pelas mesmas razões que referi anteriormente, especialmente pela forma viva e convicta, por vezes acirrada, como defendia as suas ideias. Agora, um pouco mais disponível, um pouco mais velho, mais maduro, e sabendo que Pedro Santana Lopes fundou um partido, foi a altura certa para iniciar atividade política.
[…] ao fim de 40 anos de atividade política em Portugal, o PSD está um partido aburguesado, acomodado, do sistema. Um partido que funciona muito por corredores internos e pelas portas das traseiras, muito por jogos e por lobbies
JM – A iniciativa foi sua?
A.N. – Sim, não conhecia ninguém no Aliança. Mas o processo foi simples. Eu precisei só de confirmar se o Pedro Santana Lopes que eu admirava, se alinhava com o partido que ele acabava então de fundar.
JM – O que é que o Aliança traz de novo ao panorama político português?
A.N. – Pedro Santana Lopes percebeu que ao fim de 40 anos de atividade política em Portugal, o PSD está um partido aburguesado, acomodado, um partido do sistema. Um partido que funciona muito por corredores internos e pelas portas das traseiras, que funciona muito por jogos e por lobbies.
JM – É só o PSD que funciona desse modo?
A.N. – Não é só o PSD, mas é importante tomar em conta que o PSD está, neste momento, fechado numa concha constituída por uma matriz de direita bem enraizada, que se fecha a qualquer tipo de mensagem ou de tendência politico-social que não tenha a ver com aquilo que é a direita pura, como ela nasceu no nosso país. Pedro Santana Lopes percebeu que o mundo mudou, que a vida mudou, que o tempo já não é o mesmo, as plataformas sociais estão aí, a disponibilidade das pessoas mudou, as pessoas vivem no digital, assim, se o mundo mudou, também o paradigma político mudou e é necessário que nos adaptemos aos novos tempos. Afinal, em que é que o Aliança se diferencia, e em que é que se diferencia sobretudo do PSD? Isto, porque têm, de facto, uma matriz identitária muito similar, mas não igual. Se lermos a declaração de princípios do Aliança e se considerarmos a sua prática política, quer nas europeias, quer nas legislativas, encontramos lá muitas coisas que levam as pessoas a interrogar-se “mas isto é um bocadinho de esquerda”, parecendo perto dos discurso do PS e algumas vezes, mesmo perto do Bloco de Esquerda.
[…] a direita tem a obrigação de, tal como a esquerda, ser ativa no combate pelos valores sociais e pela justiça social
JM – Mas esses apontamentos não terão sobretudo um valor tático, na necessária descolagem política que o Aliança tem de fazer relativamente ao PSD?
A.N. – De modo nenhum. Se olharmos para a relação entre a política e a nossa própria vida, verificaremos que na realidade, há aqui uma linha de conduta muito igual. Pedro Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e agora António costa, são os políticos mais experientes do país. Santana Lopes foi secretário de estado da Cultura, foi ministro, foi Primeiro Ministro e foi presidente de duas câmaras tão distintas como Figueira da Foz e Lisboa, tendo sido depois Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, desenvolvendo uma ação solidária muito importante, virada para a intervenção social, para as pessoas e para as famílias, na rua e no tecido social da cidade. Uma experiência acumulada que lhe permite entender que a direita não pode fechar-se numa concha e negar a importância os valores sociais, daquilo que tem a ver com a vida das pessoas, a saúde, a educação, a justiça, deixando estes valores à esquerda e assumindo-se mais como defensora da iniciativa privada, do mercado, do tecido empresarial e da economia. Não deve ser assim, ninguém tem a propriedade destes valores, e a direita tem a obrigação de, tal como a esquerda, ser ativa no combate pelos valores sociais e pela justiça social. O Aliança nasce das pessoas e para as pessoas, fazemos questão de assinalar isso, quer no nosso discurso, quer nas nossas propostas políticas, quer também na ação nas ruas, uma vez que o Aliança está agora a formar equipas que irão trabalhar junto da população, fazendo ação social verdadeira e direta. Então, em que é que o Aliança se distingue dos outros partidos, e sobretudo do PSD? A diferença está no facto de o Aliança ser um partido verdadeiramente solidário, que reconhece existir no país uma deficiente justiça social. A direita não pode ater-se a preocupações exclusivamente economicistas, a direita tem de entrar nestes temas, é urgente e premente que a direita também queira ocupar este terreno. O mundo mudou, e estes temas políticos devem deixar de ser estanques. Afinal, o que é hoje, na realidade, esta coisa de ser de esquerda ou de ser de direita? Esta distinção fará ainda sentido?
JM – O Aliança faria sentido sem Pedro Santana Lopes?
A.N.– Faz todo o sentido. O Aliança começa por fazer sentido por causa de Pedro Santana Lopes, sendo certo que a esmagadora maioria dos que aderiram ao Aliança, fizerem-no por Pedro Santana Lopes, mas hoje, depois deste primeiro ano de existência, com três eleições, muito trabalho feito, muitas equipas ativas, muita discussão interna, muitas entradas e algumas saídas de militantes, depois de tudo isto, posso dizer-lhe, com toda a segurança, que o Aliança faz todo o sentido sem Pedro Santana Lopes. De resto, o próprio Pedro Santana Lopes tem proposto que o partido comece a encontrar novos rostos, outras pessoas. O partido acabou de nomear duas novas pessoas como porta-vozes, Bruno Ferreira da Costa e Daniela Antão, com funções semelhantes aos secretários gerais dos outros partidos, para além disso, em algumas estruturas distritais, o partido está a promover outras pessoas. Com a experiência politica que acumulou, Pedro Santana Lopes sabe a idade que tem, sabe o desgaste de imagem que tem, com tudo o que isto tem de bom e de mau, e entende claramente os sinais dos tempos. É a figura cimeira do partido, é alguém ouvido por todos dentro do partido, mas entende que o Aliança tem de promover outras pessoas e se não fizer o trabalho de casa, será o futuro que ficará condicionado.
Com a experiência politica que acumulou, Pedro Santana Lopes sabe a idade que tem, sabe o desgaste de imagem que tem, com tudo o que isto tem de bom e de mau, e entende claramente os sinais dos tempos
JM – Como é que olha para a histórica perenidade do PSD no concelho de Mafra?
A.N. – Os sinais dados pelos últimos atos eleitorais apontam para que as coisas possam vir a mudar.
JM – Está referir-se às ultimas eleições europeias e legislativas?
A.N. – Exatamente. Sabemos que se trata de atos eleitorais distintos e que as autárquicas têm características específicas, as pessoas sabem para o que votam e eu não menosprezo a inteligência das pessoas, mas na verdade, estes resultados não deixam de ser sinais importantes. Apesar de as eleições locais que ocorrerão daqui a dois anos, serem um processo local, tenho a convicção de que as pessoas trazem um pouco do nacional para o local, separam as águas, claro que separam, mas que acaba por haver alguma influencia, isso acaba.
JM – Voltando à pergunta, como é que olha para a perenidade do PSD no concelho de Mafra?
A.N. – Explico esse fenómeno através de dois vetores. Primeiro, tem de haver um trabalho de base muito bem feito, porque não sendo assim, não haverá perenidade. Reconheço, pois, alguma qualidade do trabalho feito, em determinadas alturas bastante qualidade e noutras menos. Depois, há um fenómeno que explica muito estas coisas, é que ao contrário do que acontece em muitas autarquias – e está a falar com alguém que conhece muito bem o nosso país, nasci em Lisboa, vivi na linha de Cascais, vivi dois anos no Funchal, vivi 10 anos no Porto, a família da minha mulher é do concelho de Viseu e os meus pais vivem no Alentejo – Mafra não tem um tecido empresarial, mas sobretudo um tecido social e associativo, que consiga trabalhar, aparecer, discutir ideias, consciencializar as pessoas, chamá-las ao ativo, levar a cabo iniciativas. As razões disto, eu não sei explicar muito bem, sei, no entanto, que ao contrário do que se passa noutros concelhos que conheço, com raras exceções, não se vêem aqui forças ativas a discutir, a promover colóquios, seminários, debates, a questionar-se, até porque há muito por fazer. Mafra tem qualidade de vida, estará mesmo um pouco acima da média dos concelhos do país. É, mas será que não tem problemas? Mafra não tem alguns problemas, tem muitos problemas. Uns mais visíveis e outros um pouco mais encapotados. Como é que se pode melhorar? Pois, com intervenção social, mas em Mafra, na minha perspetiva, isso não existe. Há nichos que discutem quase à porta fechada e há pequenas iniciativas de caráter solidário, agora há também algumas iniciativas ambientais, mas discussão política, discussão social, intervenções voltadas para a justiça social e autárquica, com origem no tecido social do concelho, isso eu vejo pouco, vejo zero ou próximo disso.
Vivi vários anos na Barreiralva, a 3,5 km do centro de Mafra, onde não há passeios, onde a iluminação pública é deficiente, onde a mobilidade é uma coisa absolutamente surreal, com um ou dois autocarros de manhã e mais um ou dois no final do dia, onde não há soluções, onde não há comércio.
JM – Como é que avalia estes últimos 6 anos da atual gestão do município de Mafra? O que é que teve de melhor e de pior?
A.N. – Há um principio que é meu e que vou respeitar, em tudo o que está no âmbito da justiça e é do âmbito da justiça, eu não vou tocar, refiro-me a um processo que está correr, vamos esperar que haja mais informação e se possa perceber, de facto, qual é a verdade que nasce do processo. Mas há muitas outras coisas das quais podemos e devemos falar. Começo por algo muito simples. Há três ou quatro bandeiras que o Aliança defende, uma delas é a necessidade de impulsionar o crescimento económico do país, mas para que isso aconteça é preciso desonerar as empresas e as famílias, fazendo uma política económica mais consentânea com aquilo que é o país, um país inserido na comunidade europeia. Um outro princípio que o Aliança defende é o da coesão territorial, já que vivemos num país onde em Lisboa, no Porto e em mais duas ou três cidades existe tudo, mas à volta há um grande deserto sem soluções para quem la vive, e o concelho de Mafra é espelho disto. Quer um exemplos? Vivi vários anos na Barreiralva, a 3,5 km do centro de Mafra, onde não há passeios, onde a iluminação pública é deficiente, onde a mobilidade é uma coisa absolutamente surreal, com um ou dois autocarros de manhã e mais um ou dois no final do dia, onde não há soluções, onde não há comércio. Falamos da Barreiralva como poderíamos falar do Sobral da Abelheira, dos Murtais, do Quintal…Nós olhamos para o centro de Mafra e para a Ericeira, que são centros populacionais evoluídos, modernos, com soluções para as pessoas, mas se sairmos para a periferia do concelho, já não é a mesma Mafra, parece que chegamos ao interior do país, onde as pessoas estão esquecidas.
O problema da droga em Mafra, nas zonas escolares, não está a diminuir como algumas pessoas dizem, pelo contrário, está a crescer […] as próprias direções escolares estão com muita dificuldade em encontrar caminhos para combater isto
JM –Quais são então os principais problemas com que o concelho se debate?
A.N. – São, sem dúvidas, os problemas da coesão e da mobilidade. Os terminais de autocarros ficaram bonitos, mas as soluções concretas de horários de transporte são de facto deficitárias. É como o centro de saúde de Mafra, não se pode ir a correr cortar a fita na inauguração de um centro de saúde, mas depois, não temos raio x. Estamos no século XXI e num país inserido na comunidade europeia, e há coisas que não podem acontecer, ou que pelo menos, não deveriam acontecer. Este é um concelho absolutamente envelhecido, os estudos demográficos mais recentes mostram Mafra no pelotão da frente, embora, é certo, não esteja nos 10 primeiros, tendo a sua população envelhecida a viver sobretudo na periferia, e a verdade é que não vejo nem políticas nem soluções para este problema. Nas últimas autárquicas foi anunciado um plano para a juventude, a ser implementado nos 4 anos, mas se formos ver, só 5 ou 10 por cento foi feito. Em relação à rede de cuidados continuados, vejo privados, como a casa da Encarnação e outros a tratar do problema, mas não vejo a câmara a tratar de nada a este nível. Há também um problema, pouco falado, encapotado, que se relaciona com a segurança no concelho e que afeta as zonas escolares. Como a minha mulher é professora cá em Mafra, eu sei exatamente do que é que estou a falar. O problema da droga em Mafra, nas zonas escolares, não está a reduzir-se, como algumas pessoas afirmam, pelo contrário, está a crescer. Neste momento, as forças de segurança não estão a encontrar soluções para este problema, que cresceu e que está mais grave. As próprias direções escolares estão com muita dificuldade em encontrar caminhos para combater isto, até porque este problema já está no interior da escola. Sabemos que as forças de segurança estão despidas de meios, e isso não é culpa da câmara de Mafra, mas vamos lá ver, temos só duas formas de olhar para isto, ou enterramos a cabeça na areia, como a avestruz, ou a câmara entende que isto se passa no nosso concelho, com a nossa população e com os filhos dos munícipes, obrigando-a a discutir o problema, a debater e a encontrar soluções, mas a verdade é que eu vejo zero. Não sabemos se haverá coisas a ser preparadas, mas de facto, nada é visível.
JM – E que aspetos positivos encontra nesta gestão camarária?
A.N. – Creio que há muita coisa que resulta do aproveitamento daquilo que já vem detrás. Ao longo dos últimos 20 anos, Mafra dotou-se de boas estruturas escolares, desportivas, de bons parques, de bons acessos, mas ocorreu sobretudo um boom de famílias oriundas das linhas de Cascais e de Sintra, que vieram viver para Mafra. Em Mafra, nos últimos anos, tenho visto sobretudo a continuidade do que o executivo anterior tinha vindo a fazer, uma melhoria aqui e ali, nos parques, nos acessos, em alguma regulação urbanística, mas sobretudo nos grandes centros do concelho e a aposta no turismo, nomeadamente no turismo de surf na Ericeira. Eu preferiria elogiar, mas a verdade é que cada vez que me ocorre um elogio, atrás dele vem sempre algo que não foi bem feito, e a este propósito, a Ericeira é um excelente exemplo. A Ericeira está na moda, está muito bonita, tem uma noite agradável e as pessoas gostam de estar, mas atrás disto vem um grande desordenamento do estacionamento, na Ericeira o estacionamento é caótico, vem o ruído que resulta da diversão nocturna e que tantos problemas causa aos habitantes locais, e ultimamente surgiram os problemas de segurança. Portanto, isto do surf é muito bom, sem qualquer ironia, vem gente, vem investimento, mas esqueceram-se de pensar e de acautelar, o que de negativo tudo isto implicou.
JM – A falta de planeamento é, de algum modo, um problema nacional, não será assim?
A.N. – É verdade, é transversal, mas a realidade é que não há soluções para o estacionamento, para a habitação, para o ruído e para a segurança. Na verdade, eu olho para este executivo autárquico como uma equipa que gosta muito de fazer acontecer e de aparecer, mas que quanto às consequências, isso será coisa para pensar depois, sendo que, não me parece que esta seja a melhor forma de trabalhar. Prefiro quem planeia antes de executar, mesmo que depois possa falhar, como pode acontecer com todos nós, mas aqui no concelho, tenho a sensação de que as coisas se fazem, é bom, aparecem, está feito, é bonito, a população gosta, os problemas vêm a seguir e lá vamos depois remendando. Quer exemplos? O centro de saúde, os terminais rodoviários ou a falta de mobilidade. Finalmente, temos o problema da A21. Em Oeiras há uma autoestrada paga, mas também tem a marginal, Sintra tem a CREL, mas também tem o IC19, Vila Franca de Xira tem a A1, mas também tem uma nacional, em Mafra nada disto acontece, temos a A21 e fora isso, só temos estradas sinuosas, por dentro de povoações, com rotundas, cruzamentos, semáforos e estrangulamentos, razão pela qual será de mais elementar justiça, arranjar uma solução, a qual deveria passar pela desoneração da A21 para residentes no concelho.
Cada vez que o Aliança quis fazer alguma coisa neste concelho, só encontrou barreiras, constrangimentos e, para utilizar a palavra certa, encontrou medo
JM – E o trabalho das oposições, como é que o avalia?
A.N. – Neste momento, o meu conhecimento acerca dos outros partidos de Mafra, é diminuto. Isso acontece porque eu não venho da política, e ainda não conheço os meandros dos corredores, nem as pessoas, e na verdade porque, talvez com a exceção do PS, também não vejo atividade política no concelho. Pouca atividade nas campanhas eleitorais, na rua, ou mesmo em contactos com o tecido empresarial do concelho. No entanto, apesar do Aliança ser um novo partido e de eu estar há pouco tempo na política – embora as minhas responsabilidades políticas possam vir a aumentar, uma vez que espero vir a ser eleito, na próxima terça feira, presidente da distrital de Lisboa do Aliança – não deixarei de dizer o seguinte. O Aliança solicitou audiências à Câmara Municipal de Mafra e às juntas de freguesia. Fomos muito bem recebidos pela câmara municipal e pelo senhor presidente, com muita amabilidade, brindando-nos com um excelente trato institucional e político. Fui muitíssimo bem recebido pela senhora presidente da Junta de Freguesia de Mafra, foi amabilissíma, com uma abertura absolutamente fora do normal e muito descontraída, fomos também muito bem recebidos na Junta de Freguesia da Malveira.
“Alexandre, não me leve a mal, mas eu fui aconselhado a não fazer isto com vocês”
Pela junta de Freguesia da Igreja Nova e Cheleiros acabámos por não ser recebidos, porque o calendário eleitoral precipitou-se, mas estamos a acertar uma data para que a reunião ocorra. Também tive alguns contactos com as outras forças partidárias durante as reuniões para a formação das mesas eleitorais, onde também se gerou uma excelente relação pessoal e institucional. A conclusão lógica seria, pois, o reconhecimento da estabilidade do tecido político do concelho, de hábitos democráticos e de respeito político, no entanto, depois disto, aconteceu algo de muito estranho. Cada vez que o Aliança quis fazer alguma coisa neste concelho, só encontrou barreiras, constrangimentos e, para utilizar a palavra certa, encontrou medo. O que é uma coisa muito complicada. O Aliança quis fazer colóquios com grupos empresariais e de serviços, não vou dizer nomes, mas em Mafra há poucos, quisemos fazer debates com organizações não empresariais do concelho, quisemos alugar espaços e organizar eventos políticos no concelho, almoços, jantares, colóquios e festas e no contexto da campanha quisemos trazer o nosso candidato à Ericeira, para contactos com os pescadores, mas para organizar este encontro, tudo o que o Aliança encontrou foram constrangimentos profundos e, repito, algum medo.
Não quereria chamar a isto caciquismo, até porque me recuso a acreditar que o meu país, em pleno século 21 e no seio da comunidade europeia, tenha coisas destas
Em algumas destas tentativas, a primeira resposta que obtivemos foi claramente positiva, mas passados poucos dias, recebi um telefonema, “não leve a mal, mas afinal não é possível”. Houve mesmo quem me dissesse ao telefone “Alexandre, não me leve a mal, mas eu fui aconselhado a não fazer isto com vocês”. Não quereria chamar a isto caciquismo, até porque me recuso a acreditar que o meu país, em pleno século 21 e no seio da comunidade europeia, tenha coisas destas, portanto, eu prefiro pensar que as pessoas, para não perderem alguns direitos adquiridos que ganharam, para não perderem algum conforto de vida pessoal e empresarial que têm, preferem dizer não, embora eu tenha algumas dúvidas, pois não sei se não terão existido mesmo pressões. Quer um exemplo? No contexto do encontro que tentámos fazer com os pescadores da Ericeira, tive uma longa conversa com alguém conhecido no meio, como “mestre refilão”, alguém muito respeitado no meio dos pescadores. Foi uma conversa sobre a pesca, a juventude e a Ericeira, e no final, ele diz-me isto, “oiça, ponha na sua cabeça, perceba uma coisa, o Hélder tem-nos ajudado aqui com muita coisa que nos fazia falta, tem vindo aqui, tem investido aqui, tem dado aqui muita coisa. Eu tinha todo o gosto em receber cá o candidato, em falar com ele, mas eu prefiro que o Hélder não saiba que esteve aqui o candidato de outro partido, porque isso não é bom para nós e não é bom para a pesca”. Isto não me parece democrático, não me parece saudável para o concelho, nem para as pessoas. Não é possível que ao tentar organizar encontros no concelho, com a presença de Pedro Santana Lopes, eu me tenha defrontado com uma, duas, três, quatro, cinco recusas de espaços, vá-se lá saber porquê. Até que um empresário, que eu nem conhecia na altura e que sabendo destes constrangimentos, tomou a atitude de dizer aquilo que é lógico, ou seja, que geria um negócio, que tinha a porta aberta e que portanto não havia razões para recusar. Duas semanas depois, quando voltei a esse espaço, o empresário acabou por me confessar que uns dias depois do evento ter ocorrido, houve pessoas que se deslocaram ao espaço de que o empresário é proprietário e lhe disseram, “então, anda aqui a abrir as portas à concorrência política? Veja lá aquilo que faz. Temos de perceber onde é que estamos”. Isto é complicado, isto é complicado.
JM – Voltando um pouco atrás, às oposições e ao seu trabalho.
A.N. – Não sinto que haja oposição. Não sinto que haja oposição no concelho de Mafra
Os partidos que ganharem os jovens, serão aqueles que ganharão o futuro
JM – O que é que mudaria no concelho de Mafra se assumisse funções executivas?
A.N. – Começava por pegar em tudo o que se relaciona com a justiça social. O presidente é presidente de Mafra, da Ericeira e também de Vila Franca do Rosário, do Sobral da Abelheira, do Quintal e de todas as outras povoações do concelho. É preciso encontrar soluções de mobilidade e de acessos, mas também de urbanismo, aqui estamos a falar de passeios, de paragens de autocarro sem um telheiro para a chuva. A estes níveis, o concelho tem desequilíbrios profundos, seria por aí que eu começaria. O envelhecimento da população do concelho e os problemas que este grupo de pessoas sente são outra preocupação, haveria de encontrar soluções para alargar os cuidados continuados e de saúde a estas pessoas. É também necessário dispor de um plano real destinado à juventude do concelho. Atualmente, a juventude não quer saber da política, e nós, ou ignoramos isso, ou agimos. E agimos como? Temos de ter iniciativas, chamar os jovens, que estão no digital e nas redes sociais, que se reúnem nos seus grupos e nas escolas, que ouvem música na noite, temos de ir junto dos jovens e não ficar à espera que sejam eles a interessar-se pela política. É isso que iremos fazer no Aliança, numa iniciativa denominada Academia da Aliança, onde estaremos com os jovens nos sítios onde eles estão, chamando-os para a política, não para os partidos, mas sim para a política, para a discussão política, para discutir o país e as soluções para os problemas, por exemplo, não os preocuparão as etares e algumas fábricas, que no concelho de Mafra fazem descargas à noite, quando ninguém vê ou quando chove? Isto são coisas que as pessoas do concelho não sabem, como não sabem dos problemas de droga com que o concelho se defronta. É preciso intervenção social, é preciso criar grupos de debate, trazer as populações e os jovens a esses debates, convidar pessoas que eles admirem e que os possam mobilizar. Sei bem que por vezes se começam estas coisas com grupos de 4 pessoas, depois serão 5, 19 e de repente teremos 400 pessoas envolvidas. Os partidos que ganharem os jovens, serão aqueles que ganharão o futuro.
JM – O Aliança já começou a preparar as próximas autárquicas no concelho de Mafra? Estamos perante o candidato do Aliança à presidência da câmara de Mafra?
A.N. – Não, de todo, embora a porta não esteja completamente fechada. Eu explico. O Aliança terá a sua Convenção Autárquica no próximo mês de Janeiro e será aí que discutiremos as principais linhas da política autárquica e as mensagens que serão transversais ao país. Na convenção definiremos também os critérios que hão de presidir à formação das equipas que apresentaremos a aquela eleição. Em relação ao nosso candidato à presidência da câmara, o Aliança irá privilegiar a apresentação de uma figura que possa representar uma referência para a população do concelho. Não sei se será um independente ou não, sei que o partido procurará em todos os concelhos, figuras que pela sua vida pessoal e empresarial ou pelos seus méritos próprios, sejam uma referência para as pessoas. Não se encontrando essa figura, poderemos nem concorrer e investir forças noutras batalhas, ou então, poderemos candidatar figuras internas, mas só se entendermos que essa personalidade, pelo seu mérito pessoal, pela sua história de vida ou pelo seu mérito profissional e pela projeção que à data tenha no concelho, possa constituir uma opção válida. Se nada disto acontecer, veremos se será possível encontrar uma outra força política que represente da algum modo os nossos princípios e que seja possível virmos a apoiar.
[…] que nível de isenção é que será possível ter, quando, para poder funcionar, se depende de instalações […] que a câmara coloca à sua disposição, ou será que alguém, no seu perfeito juízo, me quer fazer acreditar que é possível ser isento, independentemente das facilidades que a câmara lhe concede para desenvolver o seu trabalho e a sua profissão?
JM – Como é que vê o panorama da comunicação social no concelho de Mafra em termos de independência editorial e financeira face ao poder político e em termos de acesso dos OCS às mesmas condições concorrência, por parte do poder político concelhio?
A.N. – O conhecimento que tenho da comunicação social do concelho não será, neste momento, o maior e o mais abrangente para que possa dar uma resposta absolutamente cabal. No entanto, sou um observador da realidade, e depois de ter assumido responsabilidades políticas, mais atento estou. Confesso que tive pequenos sinais. Notei num determinado órgão de comunicação social, cujo nome me inibo de nomear, que havia constrangimentos editoriais relacionados com as políticas que a câmara gostaria mais ou menos de ouvir. Mais uma vez, isto parece-me complicado, relacionando-se bem com aquilo que referi anteriormente. Num concelho como o de Mafra, às portas de Lisboa, que cresceu exponencialmente em termos populacionais, com um bom ranking de literacia, faz-me muita confusão como é que um concelho destes, onde se vive bem, não tem mais comunicação social visível e acessível às pessoas. Faz-me também muita confusão, ver grande parte dos órgãos de comunicação social do concelho instalados em estruturas municipais. A pergunta que faço é esta, que nível de isenção é que será possível ter, quando, para poder funcionar, se depende de instalações ou de meios ou de ferramentas que a câmara coloca à sua disposição? Ou será que alguém, no seu perfeito juízo, me quer fazer acreditar que é possível ser isento, independentemente das facilidades que a câmara lhe concede para desenvolver o seu trabalho e a sua profissão? Peço desculpa, mas eu não acredito que seja possível. De resto, relaciono esta temática com algo de que já falámos anteriormente, a diferença entre o belo aspeto das coisas e o seu real significado. Por exemplo, a Business Factory de Mafra, que é seguramente uma muito boa iniciativa, dirigida a empresários que, sobretudo no início da atividade necessitam de um espaço, está atualmente ao abandono, o que mostra falta de trabalho de base por parte da câmara municipal.