Federação Portuguesa pela Vida liderada por Isilda Pegado (PSD Mafra) apela ao voto na Extrema Direita e no CDS
Isilda Pegado foi deputada do PSD na IX Legislatura entre 2002 e 2005 (com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes na presidência do governo) e foi (é) a principal paladina da luta contra o aborto e contra a eutanásia, assumindo também a presidência da Federação Portuguesa pela Vida (organização que se considera a si própria, um movimento político).
A partir das suas posições conservadoras, esta advogada tem gerado alguns anticorpos, refletindo-se, nomeadamente, num grupo de facebook denominado “Não há pachorra para Isilda Pegado”, tendo também gerado afirmações desabridas de elementos do seu próprio partido, como foi o caso de José Eduardo Martins (PSD), que enquanto Secretário de Estado do Ambiente, de Durão Barroso, terá afirmado, “Eu faço o que for preciso para não me voltarem a endividar. Sai-me caro e, sobretudo, tira-me liberdade. Continental que sou até levo com o CDS a reboque e PAF… voto em tudo quase irrevogavelmente. Faço tudo para evitar que volte o PS e a sua repetida obsessão de acabar os mandatos em coligação com o FMI. Faço tudo, tudo, tudo…Menos votar na Dr.ª Isilda Pegado. Por favor PSD, eu aturo-te tudo, mas não te cubras de ridículo. Ajuda-nos a ajudar“.
Isilda Pegado é advogada com escritório aberto em Mafra, militante do PSD local e deputada por aquele partido na Assembleia Municipal do concelho. Politicamente conservadora e também nos costumes, têm-se distinguido na luta contra o aborto, contra o casamento e a adoção por parte de casais homossexuais e contra a eutanásia. Fez lobby pela instalação no concelho de um Juízo de Família e Menores, tendo levado esta tarefa a bom porto. Isilda Pegado é também, reconhecidamente, uma militante católica alinhada com o atual nº1 da ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) em Portugal, o Bispo Manuel Clemente – visita frequente do concelho de Mafra.
A militância conservadora de Isilda Pegado reflete-se ainda na atividade que mantém na Federação Portuguesa pela Vida (contra o aborto, a eutanásia, o casamento e a adoção por casais do mesmo sexo), organização de que é presidente. Foi esta organização que editou e publicou recentemente, um gráfico que destaca politicamente, não o PSD, o que não deixa de ser original, tendo em conta a militância partidária de Isilda Pegado nesse partido, mas sim o CDS, o Basta e o Nós Cidadãos. A aposição de duas hashtags na imagem divulgada, “#euvotoprovida” e “avidaem1lugar”, aponta claramente para o pendor politicamente apologético da referida publicação.
Entretanto, alguém com responsabilidade na gestão da página de facebook do Patriarcado de Lisboa, não resistiu, e publicou o referido “quadro classificativo”, conferindo-lhe assim a chancela politico-ideológica do patriarcado, e por essa via, da ICAR portuguesa, atualmente governada pela ala mais conservadora daquela organização religiosa.
Num momento em que a comunicação social está particularmente atenta, o foco neste caso foi imediato e a reação que se seguiu “obrigou” o Patriarcado de Lisboa a retirar a imagem. Questionado pelo Diário de Notícias, o patriarcado limitou-se a considerar a publicação como “uma imprudência”, acrescentando que “para o Patriarcado, é essencial que toda a gente tenha a possibilidade de discernir o seu voto”.
Esta tomada de posição, pela forma que assumiu, coloca o Patriarcado de Lisboa diretamente no centro da luta política subjacente às eleições europeias, sujeitando-se assim à aferição da sensibilidade dos portugueses relativamente às posições políticas da própria ICAR.
Por seu lado, a Federação Portuguesa pela Vida tomou posição relativamente a esta polémica, referindo que a imagem não representa uma indicação de voto, nem de apoio a qualquer partido, tendo um cariz meramente informativo. José Maria Seabra Duque, dirigente da Federação Portuguesa pela Vida considerou “falsa” e “ridícula” a ligação da federação a uma organização política concreta (a coligação Basta, presume-se).
Significativas são também as reações das várias forças políticas a este “quadro classificativo”, uma vez que, no fundo, quase todas elas “assobiaram para o lado”, mostrando assim o receio que ainda grassa pelos círculos políticos, quando se trata de enfrentar aquela que durante muitos séculos foi de facto a mais poderosa organização política que a civilização ocidental gerou.
Ao Observador, André Ventura, líder do Basta (Partido Popular Monárquico (PPM), Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC), movimento Democracia 21 e Chega), afirmou ter ficado feliz com a publicação do patriarcado, subindo depois a fasquia “Eu acho que foi Deus que me colocou neste espaço e nesta luta. Por isso sinto-me bem por a Igreja validar a minha posição”, levando assim deus a votos, podendo mesmo vir a sujeitá-lo a uma vergonhosa derrota eleitoral, ou não, veremos, depois de contados os votos.
Por seu lado, Paulo Morais, líder do Nós cidadãos” afirmou ao Expresso ter ficado “boquiaberto” por ver o seu partido associado ao post publicado pela Federação Portuguesa pela Vida, partilhado depois pelo Patriarcado de Lisboa. “Ninguém me consultou nem fui questionado sobre as matérias em causa, a informação é falsa. As pessoas que trabalham comigo têm direito a ter a sua opinião sobre estes assuntos. O que vincula os candidatos é o programa”, disse. Paulo Morais tornando-se, assim, o único líder político a distanciar-se claramente deste fait-divers politico-religioso que alegrou ainda mais esta já peculiar campanha para as europeias.
Notícia editada às 22:35 de 17Maio-19