Numa recente Carta Aberta dirigida ao Diretor do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira, refere-se “[…] uma situação na Basílica de Mafra, que considero vergonhosa e demonstrativa de falta de zelo e de interesse por aquele património, que é de todos nós, cidadãos“.
O autor da missiva, Augusto Oliveira, prossegue, “[…] constatei, logo na Galilé, que a mesma se encontra infestada de pombos, havendo dejectos no solo e também nas belíssimas estátuas de mármore que ali se encontram, agora à mercê das fezes corrosivas daqueles animais“.
” Entrando na Basílica e percorrendo o corredor central até junto do transepto, deparei-me com dois pombos que voavam livremente entre os vários órgãos, os mesmos órgãos tão publicitados nos últimos anos e que acabaram de ser intervencionados há poucos dias, com dinheiros públicos. Ora, como cidadão e como contribuinte, cumpridor dos meus deveres ficais e cívicos, sinto-me lesado com tal situação. Uns órgãos de tão inestimável valor artístico e cultural, sujeitos a um restauro caríssimo, com dinheiros públicos, entregues a pombos e, naturalmente, a dejectos de pombos! “ [Augusto Oliveira]
A esta missiva respondeu Mário Pereira, Diretor do Palácio Nacional de Mafra, nos seguintes termos, “De facto, durante a recente intervenção nos seis órgãos, houve momentos em que tiveram de ser abertas janelas e foi por aí que entraram 4 pombos, dois mais dois. Claro que a nossa principal preocupação é a preservação do Património que temos à nossa guarda e, nesse sentido, de imediato, abrimos as portas do Zimbório para que pudessem sair, o que, efectivamente, veio a acontecer. Passados alguns dias, voltámos a ver dois pombos no interior da Basílica, o que, naturalmente, nos deixou apreensivos. Depois de uma vistoria minuciosa, descobriu-se um vidro partido numa janela e que de imediato foi reparado.
” Como não equacionamos a matança dos pombos, fizemos tudo para que deixassem a Basílica pelas suas próprias asas, o que, felizmente, aconteceu, sendo que o último, presenciado por centenas de pessoas, saiu no passado domingo quando estavam as portas abertas ao público para o início do concerto a Seis Órgãos “. [Mário Pereira, Diretor do Palácio Nacional de Mafra]
Mário Pereira termina a sua resposta convidando o autor da carta aberta, a visitar o corredor dos órgãos.
Posteriormente, Augusto de Oliveira contrapões que “[…] hoje, durante a manhã, estive na Basílica do Palácio Nacional de Mafra, onde assisti à missa. Pude verificar, juntamente com toda a comunidade que ali se encontrava presente, na qual se incluem elementos do executivo camarário, que os pombos continuam no local e que, efectivamente, poisam nos órgãos”
Este caso mostra que é necessário estar mais atento a situações que possam por em causa a qualidade das visitas ao palácio e á basílica, ou que possam, a prazo, por em causa os investimentos feitos, seja através dos impostos, seja através do já longínquo ouro do Brasil.
Certo é que o Palácio Nacional de Mafra merece – de acordo, nomeadamente, com os apelos de seu diretor, Mário Pereira – que sejam mobilizados os investimentos que permitam a sua completa reabilitação. Merece também que haja coordenação de todas as estruturas que o tutelam (Igreja Católica que graciosamente usa as instalações, autoridades militares, Ministério da Cultura e Administração Local), merecendo ainda que as pessoas e entidades que tanta lágrima têm carpido pelo monumento, se mobilizem, para através de iniciativas de mecenato e de coordenação de esforços – económicos, financeiros, políticos e culturais – seja possível, de uma vez por todas, ultrapassar a decrepitude que em algumas áreas (não só na vertente física) o impedem de se constituir como um pleno e moderno pólo de desenvolvimento do concelho.
Quanto aos pombos, uma praga urbana de que o edificado monumental é vítima, são bem conhecidas as técnicas que permitem o seu controlo e/ou erradicação, faltando pois, por aqui, vontade política ou conhecimento técnico, para resolver este problema em definitivo.