A partir de um email enviado por um partido político, no caso, o PS de Mafra, a todas as redações, de todos os putativos órgãos de comunicação social (OCS) a operar no concelho de Mafra, o Jornal de Mafra foi o único OCS do concelho que mostrou interesse nas questões levantadas pelos cheiros emanados a partir da Tratolixo, na Abrunheira e pelo incómodo que este facto provoca nas populações. Assim, tendo uma oportunidade de visitar as instalações, deslocámo-nos hoje em reportagem às instalações da Tratolixo.
Todas as questões colocadas tiveram uma resposta cabal, à exceção de uma, precisamente aquela que ali levou aquela delegação partidária, a questão de saber como ultrapassar em definitivo o problema dos odores que por vezes se sentem nas áreas que circundam as instalações da Abrunheira
Assistimos a uma apresentação liderada por Ricardo Castro, responsável pela exploração da Tratolixo, em que também participaram, João Dias Coelho vogal da administração, Joaquim Sardinha vogal da administração e Susete Dias, Presidente do Conselho de Administração. Tratou-se de um misto apresentação-debate com resposta a questões apresentadas pela assistência.
Foi possível ter uma visão exaustiva da atividade da Tratolixo ao longo da sua existência, focada em aspetos financeiros, organizacionais e técnicos. Todas as questões colocadas tiveram uma resposta cabal, à exceção de uma, precisamente aquela que ali levou aquela delegação partidária, a questão de saber como ultrapassar em definitivo o problema dos odores que por vezes se sentem nas áreas que circundam as instalações da Abrunheira.
É certo que a empresa sabia da nossa visita, mas na realidade não encontrámos grandes pilhas de lixo, nem cheiros demasiado ativos, se tivermos em consideração, que estamos numa fábrica onde se processa lixo
O Jornal de Mafra deslocou-se à Tratolixo com o objetivo de esclarecer, fundamentalmente, três questões:
Como é feita a triagem do lixo? A resposta obtida foi clara, nas instalações da Abrunheira (praticamente) não se faz triagem, uma vez que a principal matéria-prima aí tratada é a fração orgânica provinda de Trajouce, biorresíduos de recolha selectiva e biomassa, tratamento feito essencialmente por biodigestão (utilização de bactérias). Naquelas instalações trabalham cerca de 85 trabalhadores, em 3 turnos, 10 deles exercendo funções administrativas. É certo que a empresa sabia da nossa visita, mas na realidade não encontrámos grandes pilhas de lixo, nem cheiros demasiado ativos, se tivermos em consideração, que estamos numa fábrica onde se processa lixo.
Como são tratados os líquidos que resultam destes processos? A informação a que nos foi dado aceder, sem que surgissem razões para dela duvidar, afirmava que o tratamento dos efluentes é feito em circuito fechado, numa ETAR dedicada, tratamento de que resulta sobretudo água (80%) que é reaproveitada, só sendo rejeitada para uma ribeira (com teores de substancias dissolvidas, dentro dos parâmetros legais, disseram, estando disponíveis boletins de periódicos de análise). Em termos de aproveitamento energético deve referir-se que a instalação, a partir dos lixos, produz 21 gigawatts de corrente (que seria suficiente para abastecer a Malveira).
A quantidade de lixo que encontrámos ao ar livre foi absolutamente residual (novamente, a nossa visita estava anunciada), se tivermos em consideração que se recolhem aqui 456 000 toneladas de lixo por ano, então fica mais claro o aspeto residual do lixo que vimos ao ar livre
A questão base, aquela que se relaciona com os cheiros, é um problema real, disso não há quaisquer dúvidas. A pergunta será, pois: é tecnicamente possível, numa instalação destas dimensões e com estas caraterísticas, reduzir significativamente o incómodo dos cheiros nas populações que residem, labutam ou transitam na área de influência da Tratolixo, na Abrunheira? A ideia com que ficámos é que isso não será possível. A ideia com que ficámos terá origem numa patologia que persegue este país e as suas gentes – falta de estudo, falta de planeamento – ou seja, estas instalações nunca deviam ter sido construídas naquele espaço, a autoestrada nunca devia ter passado por ali e a área de serviço que vive paredes meias com a estação de tratamento de lixos, nunca devia ter ali sido construída.
Esperemos que a Tratolixo mantenha o interesse na “questão dos odores”, que a investigação nesta área se desenvolva e que a técnica faça o seu trabalho, e claro, que haja euros para investir em tudo isto, pois, só assim será possível mitigar este problema.
Estas instalações nunca deviam ter sido construídas naquele espaço, a autoestrada nunca devia ter passado por ali e a área de serviço que vive paredes meias com a estação de tratamento de lixos, nunca devia ter ali sido construída.
Esta visita permitiu ainda sinalizar outros problemas que subsistem na empresa. Problemas laborais originados, nomeadamente, por discrepâncias salariais entre trabalhadores, problemas relacionados com a pouca qualidade das instalações disponibilizadas aos trabalhadores – um arremedo de refeitório em contentores – e, claro está, problemas relacionados com o financiamento do projeto e com o seu desenvolvimento.
Tal como aconteceu aquando da visita do presidente da JP Mafra (CDS-PP) a estas instalações, o JM pediu igualmente ao presidente da comissão política do PS Mafra que, em artigo de opinião, a publicar brevemente, exprimisse a sua opinião política a propósito desta visita.
[ATUALIZADO em 11-04-2019 16:22]