A propósito da assinatura, que hoje ocorre, do protocolo entre a DGPC e a Câmara Municipal de Mafra, que permitirá a instalação do Museu da Música na ala Sul do Palácio Nacional de Mafra, o Jornal de Mafra publica uma pequena entrevista com a Sra. Ministra da Cultura, Graça Gonçalves.
Graça Maria da Fonseca Caetano Gonçalves, nascida em Lisboa no ano de 1971, é doutorada em sociologia e licenciada em direito. Foi Chefe de Gabinete do Ministro de Estado e da Administração Interna e do Secretário de Estado da Justiça no último governo de José Sócrates, tendo ainda desempenhado as funções de Secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa desde finais de 2015, até substituir Luís Castro Mendes na pasta da Cultura, em outubro de 2018.
Esta entrevista focou-se exclusivamente em temas relacionados com estruturas e políticas culturais com impacto local, com especial incidência naquele que é o “ex-libris” cultural e monumental do concelho de Mafra, o Palácio Nacional de Mafra.
JM – Qual foi a razão determinante para que o Museu da Música tivesse como destino final a vila de Mafra?
G.F. – Há 25 anos que o Museu Nacional da Música está em instalações provisórias, na estação do Metro do Alto dos Moinhos. Pareceu-nos imperativo não só encontrar um espaço definitivo – não é de mais sublinhar que se trata de um Museu Nacional – mas dotar o Museu de instalações adequadas ao seu efetivo funcionamento, a par, claro, de condições apropriadas para a exposição da maior parte do espólio.
Mafra reúne todas as condições para acolher o Museu. A presença da música em Mafra, através dos seis órgãos de construção portuguesa e do conjunto único no mundo dos carrilhões, permite construir um discurso museológico coerente, a que não são alheias, obviamente, as dimensões do próprio espaço físico do Palácio Nacional de Mafra.
Além disso, na lógica da promoção da descentralização e do reforço da coesão territorial que este Governo tem procurado prosseguir, Mafra cumpre inteiramente esse objetivo. Junta-se a isto, claro, o entusiasmo com que o próprio município acolheu esta iniciativa.
JM – Os seis órgãos da Basílica estarão recuperados em finais de maio, mais para o fim do ano, chegará a vez dos carrilhões se fazerem ouvir, e em 2020 será então tempo para o Museu da Música. Há algum plano estratégico destinado a potenciar estes investimentos, em termos turístico-culturais, nomeadamente um plano integrado para o eixo cultural/turístico Sintra-Mafra?
G.F. – O prazo previsto para acabar a obra de intervenção nos carrilhões é o final deste ano. Com a recuperação dos órgãos da Basílica de Mafra e com a intervenção nos carrilhões ficam criadas as condições que permitirão assegurar uma programação musical abrangente e diversa, que em muito contribuirá para o desenvolvimento turístico e cultural da região.
JM – Está também a decorrer o processo de candidatura do Palácio Nacional de Mafra a Património Mundial da UNESCO. O ICOMOS já emitiu parecer? Como é que está a decorrer o processo de candidatura?
G.F. – O ICOMOS já emitiu parecer favorável. O Ministério da Cultura está agora a preparar o processo de candidatura à Lista do Património Mundial da UNESCO.
Deste processo, consta um plano de gestão que reúne os vários organismos com responsabilidades no monumento e que integra o Palácio-Convento, o Jardim do Cerco e a Tapada Real.
JM – O Palácio Nacional de Mafra está a necessitar de outras intervenções, nomeadamente em termos das acessibilidades e de manutenção geral interior e exterior. As intervenções nos órgãos e a reabilitação dos carrilhões não aconselhariam a execução de um plano escalonado de manutenções, evitando grandes obras e os respetivos custos? O recurso ao mecenato, poderia ser uma opção a considerar?
G.F. – A Direção Geral do Património Cultural tem um plano de obras elaborado. Relativamente ao mecenato, tenho defendido que a constituição e o reforço de redes e de parcerias com entidades público-privadas, com envolvimento da própria sociedade civil, é uma mais-valia indispensável também na Cultura.
É muito importante definirmos como queremos olhar para o futuro, numa estratégia de médio e longo prazo que terá de passar, necessariamente, por uma visão mais multidisciplinar e integrada.
JM – Há um outro espaço no Palácio Nacional de Mafra que espera ver a luz do dia, O Museu de Escultura Comparada. Há planos para a reabilitação deste espaço?
G.F. – É um projeto interessante com um vasto espólio, que ocupa sete salas do Palácio, e sobre o qual teremos de refletir agora ao abrigo do novo diploma para a autonomia de gestão dos museus, monumentos e palácios.
JM – O espaço físico do Palácio nacional de Mafra encontra-se submetido a várias tutelas – Ministério da Cultura, Ministério da Defesa, Câmara Municipal de Mafra e Igreja Católica. O que é que a Ministra da Cultura pensa da eventual unificação ou coordenação destas tutelas?
G.F. – O Real Edifício de Mafra é propriedade do Estado Português, sob gestão de diferentes entidades. Na candidatura a Património Mundial da UNESCO está prevista a criação de um organismo de gestão com a participação de diferentes entidades, nomeadamente o Município de Mafra.
JM – O atual diretor do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira, estará prestes a aposentar-se. Há já uma previsão de data aproximada para a tomada de posse do seu substituto?
G.F. – O diretor do Palácio Nacional de Mafra está em plenitude de funções e no final da sua comissão de serviço será aberto concurso para novo diretor.
JM – A ideia, que vem por vezes a público, de congregar a Tapada Nacional de Mafra e o Palácio Nacional de Mafra sob a égide da Parques de Sintra – Monte da Lua tem alguma razão de ser?
G.F. – Neste momento, têm o meu compromisso para garantir o início da transferência do Museu da Música para Mafra e é para isso que trabalharei até ao final da legislatura.