Filipe Ferreira, engenheiro civil especializado em conservação e restauro é um homem do norte que está à frente de uma empresa familiar sediada em Braga, uma empresa [AOF] com mais de 50 anos de atividade na área da reabilitação e com cerca de 80 trabalhadores ao seu serviço. A empresa tem neste momento trabalhos a decorrer na vila medieval de Óbidos e em Mafra, vila em que o barroco joanino se fez Palácio e Convento, para referir só trabalhos da AOF a decorrer atualmente na área oeste.
A reabilitação dos carrilhões do Palácio/Convento de Mafra está pois a cargo de uma empresa portuguesa com um portefólio importante na área da reabilitação de património edificado. A Reitoria da Universidade do Porto, o Palácio da Bolsa do Porto, o Santuário do Bom Jesus em Braga, a Sé da Guarda, o Mosteiro de Tibães e a Sé de Viseu, constituem um esclarecedor cartão de visita para esta empresa que ganhou o concurso lançado pela DGPC (Direção Geral do Património Cultural), e que depois de algumas portarias de extensão de encargos, mudanças de ministro da cultura e passagens de políticos locais pela televisão, lá viu arrancar as obras, em junho de 2018.
Estaleiro enlameado, como seria de esperar em pleno inverno, muitos sinos da Torre Norte (49 sinos do carrilhão, 7 da liturgia e 3 do relógio) com assinalável tonelagem, apeados e alinhados à espera de limpeza e de reparação, madeiras já a serem carregadas, lá fora, numa viatura pesada que as havia de levar para Braga, onde serão intervencionadas, trabalhadores a subirem e a descerem no monta-cargas que serve para retirar alguns materiais e para colocar e retirar trabalhadores lá das alturas, e uma reunião de coordenação já a decorrer, como acontece frequentemente às terças-feiras – foi assim que encontrámos o estaleiro.
A subida no monta-cargas, para além de nos mostrar uma rara visão da vila, vista lá das alturas, permitiu-nos aceder aos pisos e aos níveis da torre que alojam os sinos, os relógios, as madeiras de suporte e os mecanismos do relógio e dos carrilhões. No piso dos relógios pudemos observar o mecanismo que os constitui, peças alinhadas e etiquetadas no chão, preparadas já para serem limpas e reparadas, de modo a que, concluída a obra, ao som do carrilhão, possam os mafrenses e os forasteiros adicionar as badaladas características da marcação das horas.
Relógios e carrilhões ficarão reduzidos a um verdadeiro puzzle de peças soltas, milhares de peças, que depois de etiquetadas, limpas e reparadas, terão depois de voltar aos seus lugares para que o todo faça novamente sentido. Para além de etiquetadas, todas as peças verão a sua estrutura tridimensional graficamente registada, sendo depois agrupadas e encaixadas com o apoio de um programa informático, sistematizando o trabalho, evitando erros e permitindo acelerar uma tarefa que é morosa e exigente. Também a pedra e as juntas confinantes serão tratadas, uma vez que são fundamentais para a solidez da estrutura.
Nota-se bem que a organização e o planeamento são, para além da competência técnica nas várias valências da obra, características bem patentes nos vários níveis e valências desta reabilitação. Para além da competência, não passa desapercebida uma centelha de paixão, naqueles/as a quem o estado confiou a tarefa de voltar a dar à vila o som e a festa dos seus carrilhões, que durante tantos anos constituiu uma das suas características distintivas.
A Torre Sul, aquela cujo carrilhão (53 sinos do carrilhão, 4 da liturgia e 3 do relógio) se encontra em melhores condições, embora as madeiras estejam aqui em pior estado, será a única que ficará funcional – o país é pobre e pensar a longo prazo, não é sina nossa – e só será intervencionada durante 2019, embora já sejam visíveis andaimes em seu redor.
Esperamos que a este esforço técnico e financeiro, corresponda depois uma utilização culturalmente rica deste património recuperado, que ele contribua para o tão necessário desenvolvimento do concelho, e já agora, façamos votos de que o carrilhão da Torre Norte, que agora fica “de pousio” possa vir a ser plenamente reabilitado com brevidade, que o real edifício possa vir a ser devidamente pintado – que bem precisa – que veja a sua pedra limpa, e que haja o bom senso de criar um futuro plano de manutenção, que não permita a repetição de interregnos no funcionamento e no desfrute de equipamentos com este valor e com esta importância cultural e patrimonial.
Quanto à data concreta prevista para a conclusão da obra, Filipe Ferreira escusou-se a apontar uma data certa, uma vez que, faltando ainda cerca de um ano para o fim do prazo, e faltando também “desmontar” madeiras, sinos e mecanismo da Torre Sul, não será ainda possível descartar a possibilidade de se deparar com alguma surpresa que pudesse interferir com uma data de conclusão marcada a esta distância. Filipe Ferreira, com alguma boa disposição, limitou-se a referir que a obra está a decorrer dentro dos prazos previstos e que quanto ao dia de entrega da obra, esse não será, seguramente, o dia 31 de dezembro de 2019. Numa entrevista recente a uma agência de publicidade do concelho, o diretor do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira, avançou estar confiante de que a obra estaria concluída em Setembro de 2019 e que já teria, mesmo, convidado alguns carrilhonistas pata a apoteose da re-inauguração.