Andaram os antigos a investir dinheiro e esforços na erecção destes espaços, para que depois, os seus descendentes, mesmo nos espaços (físicos e temporais) em que até as autoridades civis tomam os deuses como entidades capazes de dar votos, permitam – ao longo de muitos anos – esta degradação tão pouco divina que as imagens documentam.
Desde logo, a Igreja Católica Apostólica Romana, usufrutuaria do espaço em que a igreja se insere (afecto ao culto, Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa, 1940, artigo 6.º) sendo, no entanto, património do estado. Como é que foi possível que a ICAR não tivesse mantido este espaço protegido para as actividades a que se destina? Aqui, a degradação não foi, seguramente, fruto da acção da I República. Compreende-se que os clérigos católicos prefiram deslumbrar-se com a Basílica do Palácio Nacional de Mafra, e possivelmente com as “esmolas” que os fieis ali deixam, do que “investir” tempo e esforço na manutenção de um templo católico como a Igreja de Santo André.
Estudos mais recentes, porém, vieram relacionar a construção do templo com a acção de D. Diogo Afonso de Sousa, pelas décadas de 30 e 40 do século XIV [(B. PEREIRA, 2000, p.22).DGPC]
A própria câmara Municipal de Mafra, sempre pronta a investir dinheiro dos impostos no culto católico, preferiu investir esforços num novo órgão para esta igreja, em vez de pugnar que o espaço público daquele local mantivesse a sua dignidade. Falamos aqui de responsabilidade mitigada, sabemos disso, mas para algo há-de valer o tão gasto valor da proximidade do poder local. Falamos também em investir esforços, e não, propriamente, em investir euros, uma vez que foi a Caixa Agricola de Mafra, um banco onde a influência politica do PSD local e da câmara se faz sentir fortemente, que disponibilizou os fundos necessários à aquisição de este novo órgão.
Trata-se de um bem cultural secundário, sendo por isso que a degradação se apoderou deste espaço? Nada disso. A Igreja de Santo André é, pasme-se um edifício classificado como Monumento Nacional, ou seja, a sua degradação reflecte bem o estado do país e o estado do concelho de Mafra fora das vias/ruas principais.
Um pouco de história:
Pode ler-se no sitio da Direcção Geral do Património Cultural, “A igreja de Santo André, em Mafra, é um dos templos góticos mais ilustrativos do que foi a arquitectura paroquial no centro e litoral do país durante o final do século XIII e a primeira metade da centúria seguinte. Designado, genericamente, por Gótico dionisino, trata-se de um modelo de igreja paroquial, cujo núcleo mais expressivo se encontra, precisamente, na região da Estremadura, casos das igrejas de Santa Maria de Sintra, São Leonardo de Atouguia da Baleia, Santa Cruz de Santarém e Santa Maria da Lourinhã.”. “Como principal templo da vila, e ponto central de toda a estrutura urbana até ao século XVIII, a igreja de Santo André foi objecto de numerosas campanhas construtivas e decorativas durante a época moderna. As escavações arqueológicas realizadas no seu adro identificaram vários compartimentos e enterramentos desta época, incluindo a Casa da Irmandade do Santíssimo, espaço referido em 1760 e que se adossava à cabeceira, pelo lado Sul (SOUSA, 1998, p.355).”
A igreja encontra-se habitualmente encerrada, mostrando a pouca importância que a usufrutuária lhe atribui. Tanto quanto sabemos, a chave estará à guarda das instalações camarárias do Complexo Cultural Quinta da Raposa, o que também terá algum significado.
As imagens documentam a existência do que parecem ser os restos mortais de uma palmeira que já terá “falecido” há muito tempo, os restos de uma fogueira, que mais parece ter integrado um rito de bruxaria, os muros pejados de pichagens, desperdícios de mármore que alguém ali terá despejado, muitas ervas daninhas e as pedras no canto, que os jovens utilizam para se introduzirem nas vizinhas instalações da Misericórdia de Mafra. Não documentados nas imagens, os bancos em pedra que se encontram no logradouro da igreja e que estão também pichados.