11 de Julho de 1823 – Paquete a vapor naufraga em Cabo Rendido próximo a Torres Vedras

 

A navegação a vapor entre Lisboa e Porto iniciou-se no dia 9 de junho de 1821, com vista a que as viagens entre as duas cidades se fizessem com maior rapidez e comodidade.

No dia 10 de julho de 1823, o paquete Lusitano, com cerca de 250 toneladas, que partira do Porto pelas 3 da manhã, em direção a Lisboa fez uma escala na Figueira da Foz de onde partiu pelas 17h00. Com a chegada da noite pôs-se um denso nevoeiro e uma forte corrente arrastou o paquete Lusitano até ao Cabo Rendido, próximo da praia de Cambelas, onde naufragaria no dia 11 pelas 3 horas e 30 minutos.

O naufrágio do barco do vapor o paquete Lusitano que faria a carreira de Lisboa para o Porto, e que em consequência de uma cerração de névoa se perdeu nos cachopos de Cabo Rendido próximo a Torres Vedras na madrugada do dia 10 de Julho causou um geral desgosto, porque se perdeu muita gente, roubou-se muito dinheiro e afrouxou o entusiasmo pela navegação por vapor. (…) foi há pouco mais de dois anos estabelecido em Portugal, e na falta de boas estradas, asseadas Estalagens, e cómodos transportes era além de um prazer, uma precisão para os viajantes em Portugal para a comunicação entre as duas principais cidades do Reino, para o comércio e governo, pela facilidade e prontidão da correspondência. (…).”
José Sebastiano de Saldanha Oliveria e, posteriormente Conde de Alpedrinha, in Diorama de Portugal nos 33 mezes constitucionaes ou golpe de vista, Impressão Régia, Lisboa, 1823, p. 190

Justino da Silva Pereira, da Vila da Ericeira, partiu em auxílio aos náufragos logo que soube da notícia, levando consigo três mergulhadores, mas apesar da rapidez e eficiência do socorro, não foi possível evitar algumas mortes, já que de acordo com notícia da época terão morrido cerca de sessenta pessoas.

Na altura, Rodrigo de Sousa da Silva Alcoforado Teixeira, moço fidalgo com exercício, comendador na Ordem de Cristo, Barão de Vila Pouca e os mais naufragantes abaixo assinados, manifestam a sua gratidão ao homem que os socorreu, tendo atestado que:

“O Senhor Justino José da Silva, da Vila de Ericeira, logo que teve notícia (no sítio da Assenta, onde se achava salvando os efeitos da Fragata Cornelina, da Nação Francesa) que no sítio de Cambelas tinha feito naufrágio o paquete de vapor, que viajava da cidade do Porto para a de Lisboa, imediatamente compareceu naquele sítio com três búzios (ou mergulhadores) do seu comando, ao trabalho e eficácia dos quais se deve a nossa salvação, e de muitas pessoas que escaparam, providenciando tudo quanto era possível neste perigoso e arriscado naufrágio, e diminuindo as desgraças que todos sofreram, com a maior caridade, e humanidade, chegando a levar a todos nós para sua casa, onde fomos tratados e curados de nossas feridas, e onde se fica curando de uma quebradela de perna o padre João Bernardo Nogueira, e por verdade lhe passamos a presente, que sendo necessário juramos. Ericeira, 12 de Julho de 1823. (seguem-se 15 assinaturas)” in Gazeta de Lisboa n.º 167, 17 de Julho de 1823, p. 1242

O Paquete Lusitano transportaria, naquele dia, 189 passageiros para além dos tripulantes.

[Imagem: araduca]

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