Crónica de Licínia Quitério | Os meus dias da rádio

Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Os meus dias da rádio por Licínia Quitério   Faz muitos anos que, menina que eu era, vivia fascinada pelo som que se soltava daquela caixa castanha e polida, com um vidro cheio de letras e números onde, rodando um botão, se fazia navegar, para trás, para diante, um ponteiro fininho, não mais do que um risco preto no vidro iluminado. Era o ponteiro ao parar que fazia ouvir falas de homem, de mulher, ou músicas, tocadas e cantadas. Eram os dias da rádio.…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Pensar e Sonhar

Crónica

Crónica de Jorge C Ferreira Pensar e Sonhar   Desdobravam noites atrás de dias entre ruínas de civilizações desaparecidas. Uma escrita que não sabiam decifrar, jogos de que não sabiam as regras. Nadavam num mar esmeralda e quente. O sal a tomar conta de tudo o que vivia neles. O sol a crescer forte e saboroso. A cor da sua pele a mudar. Uma vida quase de subsistência. Dedicavam muito tempo ao pensamento. Aprenderam a adorar o silêncio. Apenas ouviam a voz do mar. Uma voz que passou a fazer…

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Crónica de Alice Vieira | Os fantasmas que por aqui andam

Alice Vieira

Os fantasmas que por aqui andam Por Alice Vieira   A gente nova é claro que nem imagina de que é que estou a falar, mas também duvido que os adultos saibam a história toda. Quem estiver de frente para o mar, na Praia do Sul, da Ericeira, se olhar para a sua esquerda, vê uma enorme moradia no alto de umas rochas. Melhor vista não pode haver. Ora bem : trata-se de uma casa assombrada. Os fantasmas passeiam-se nela durante todo o dia e, à noite, vão apanhar pessoas…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Temporal

Crónica

Crónica de Jorge C Ferreira Temporal   O grasnar das gaivotas que voavam junto ao rio. Voos errantes, desordenados, um voar de perdição. Um tecto de nuvens negras que quase tocava o rio. Uma ondulação que lembrava o mar encrespado. Os sinais sonoros dos barcos a atravessarem o nevoeiro. O inesperado temporal. A chuva que começava a cair impiedosamente. As janelas viradas para o rio fechadas. Alguém, de vez em quando, arredava as cortinas e espreitava enquanto fazia as suas preces. Uma fadista vai para o seu trabalho. Leva o…

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Crónica de Licínia Quitério | Dantes é que era bom

Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Dantes é que era bom por Licínia Quitério   “Naquele tempo a escola era risonha e franca…” Assim começa um poema que nos meus tempos de menina, meu Pai me deu a conhecer. Trago este verso com o propósito de reflectir nas relações havidas por cada geração com a aprendizagem do seu tempo. Naturalmente é a minha geração que me serve de amostra porque a observo nos abundantes ditos e escritos que citam e ilustram opiniões sobre escolaridade. É vulgar a crítica negativa à…

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Crónica de Jorge C Ferreira | A Mudança

Crónica

Crónica de Jorge C Ferreira A Mudança   O colo dela, o sossego dele. Uma guitarra dedilhada. Uma mulher deitada. O sossego dele, o colo dela. Um alaúde, uma cítara e um cajón. Uma música exótica. Um amor a crescer. Quantos dias tinha ela? Quantos eram os que ele tinha perdido quando os tentava contar? Nossa aventura. Feita caminhada. Os medos e os tempos vencidos. Uma faca afiada pronta para cortar contratempos. Um calendário com meses rasgados. A ignorância dos dias perdidos. Tempos houve em que os seus perfumes não…

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Crónica de Alice Vieira | Lembrando Carlos Pinhão

Alice Vieira

Lembrando Carlos Pinhão Por Alice Vieira   Na passada 2ª feira faz trinta anos que morreu Carlos Pinhão. Nem quero pensar que já passou tanto tempo! Todos os dias me lembro dele, por variadas razões — mas todas me fazem rir. Acho que nunca o vi mal disposto. Para quem não sabe ou não o conheceu, Carlos Pinhão foi um grande jornalista desportivo (escreveu para a “Bola” e para o “Record”, mas também para outros jornais e revistas sobre outros assuntos — “Vértice”, “Diário de Lisboa”), “Diário Popular”, “Público”, ”Jornal…

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Crónica de Jorge C Ferreira | A Luz

Crónica

Crónica de Jorge C Ferreira A Luz   Os anos a correrem e as meninas a aprenderem. Cavalos brancos levam-nos até a um infinito impossível. A noite que cada vez parece mais perto. Uma escuridão, ou uma explosão de luz. Ninguém sabe. Ninguém nunca contou nada. Parece um segredo bem guardado. Eu penso que é o fim de tudo, mas respeito quem pense o contrário. Os que esperam uma nova vida. Quando sonho com os meus mais antigos, vejo-os sempre como os conheci. Tenho toda a sua imagem guardada em…

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Crónica de Eugénio Ruivo — O tempo do sonho interrompido aos 9 anos!

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Crónica de Eugénio Ruivo O tempo do sonho interrompido aos 9 anos!   Eram cinco irmãos, todos filhos de agricultores naturais da freguesia de A-dos-Negros concelho do Bombarral, que de um momento para o outro, em 1931 se viram obrigados a abandonar a escola e ir trabalhar para o sustento da família. Foram distribuídos para vários pontos do país. O pai transformava lenha em carvão na aldeia para ir vender, a mãe iniciara a venda de peixe num lugar da praça do Bombarral. Do grupo Gracinda Ruivo (minha mãe), que…

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Crónica de Licínia Quitério | A aldeia global

Licínia Quitério

De ontem e de hoje – A aldeia global por Licínia Quitério   A palavra “globalização” que inundou os vocabulários de todo o “globo”, pronuncia-se com  cuidados redobrados, não vamos, apressados, saltar uma sílaba e desfeá-la ou torná-la intraduzível. Este arrazoado vem a propósito da observação recente de novidades de além mundo que, com a tal globalização, têm chegado aos lugares mais improváveis deste nosso país. Gente apelidada de migrante, perdida a bondade ou oportunidade de seus países de origem, chega, por caminhos impensados, a vilas e aldeias deste país…

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