Crónica de Alexandre Honrado Nunca estarei longe da cidade “Mas o esforço humano nunca se apaga totalmente, e velhos mapas de terras, de mares, do firmamento, dizem-nos como é profundo o domínio, o saber deste povo de que somos filhos legítimos, herdeiros e servidores simultaneamente: do hoje prisioneiro ao livre amanhã que ganharemos” Salvador Espriu in O Atlas Furtivo, de Alfred Bosch. (BOSCH, Alfred. O Atlas Furtivo. (2012). Lisboa: Livros do Brasil). Longe da cidade, evoco a cidade. Há tanto para dizer – eu próprio já disse tanto e, sobretudo, calei outro tanto.…
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Crónica de Alexandre Honrado – A memória que nos esquece
Crónica de Alexandre Honrado A memória que nos esquece Pierre Nora, historiador e editor (especializado na área das ciências sociais), diretor na École de Hautes Études em Sciences Sociales, afirmou um dia que “só se fala tanto de memória porque ela já não existe”. Diria eu, se é assim, daqui a nada não me lembro do que fez surgir a vontade de escrever isto. Mas até lá, aproveitemos. Penso eu que a memória apagada pela distância e votada ao esquecimento procura constituir um lugar onde ficam as coisas,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Convicções
Crónica de Alexandre Honrado Convicções Era convicção de alguns, presos à sabedoria e à sofisticação sentimental que faz de uma besta um ser completo e capaz de ser melhor para um mundo já de si tão pródigo em ofertas, era convicção firme que o ser humano podia ser o animal perfeito, entre os animais que o rodeavam. Um cérebro mais amplo dotava-o de capacidades, sendo que duas delas podiam transcendê-lo e torná-lo ímpar e excecional: a capacidade de decidir, escolhendo entre os males o melhor que a todos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Um prefácio sem vergonha
Crónica de Alexandre Honrado Um prefácio sem vergonha Não sei se cabe nestes textos que aqui faço a escrita de um prefácio. Mas a aventura de fazê-lo é superior ao risco de usar um espaço onde não devia fazê-lo. Se o faço é porque depois vou querer fazer mais e maior (talvez melhor). A desfaçatez com que o faço, ao prefácio, veio de duas fontes de inspiração: uma, a primeira, prende-se com relativas saudades dos prefácios de alguns livros, prosas capazes de rivalizar com o seu conteúdo ou…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Pagar portagem à inteligência
Crónica de Alexandre Honrado Pagar portagem à inteligência Apesar das habilitações ditas, talvez por ironia, literárias ou académicas, a verdade é que aquela rapariga não passa de uma cepa muito torta que se senta todos os dias na mesma pequena caixa metálica, a receber outras coisas metálicas, moedas, moedas de condutores anónimos, mal encarados, mal educados, ensonados, indiferentes, coitados. Condutores que pagam a portagem de uma forma direta, moeda a moeda, praguejando contra os aumentos e a vida. Ela, a rapariga da portagem, com outra vida parecida, mas…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Força de viver: a resistência
Crónica de Alexandre Honrado Força de viver: a resistência Apesar do regresso da barbárie – entenda-se, do vandalismo indiscriminado, da violência praticada na ausência do diálogo, da cultura da morte agitada nos meios de cultura massivos, para consumo coletivo, do regresso dos slogans da velha extrema-direita e demais gente, o novo talassa, gente arreigada ao anacronismo das datas, das ideias e dos conteúdos, já sem falar de uma imprensa maioritariamente conservadora e comprometida, e do triunfo das mais torpes distopias – há, por contradição, o crescimento de bolsas…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Apontamentos de Paris
Crónica de Alexandre Honrado Apontamentos de Paris O quotidiano vai já respondendo a uma dúvida inquietante: há uma nova cultura emergente, uma mescla sobrevivente que resulta da desvalorização do ser, isto é, de todos nós, e é efeito perene dos muitos declínios que permitimos e que nos negaram a eternidade. Não há progresso sem conhecimento, e essa cultura é a do desconhecido. É um borrão feito sobre camadas mais sólidas, um palimpsesto, se é que ainda alguém sabe o que isso é. Traduz a falta de critérios estéticos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Pós-memória
Crónica de Alexandre Honrado Pós-memória Confesso-me profundamente desiludido, triste, empurrado pelo vento fabricado pelas máquinas ideológicas que escondem as brisas e os furacões que a natureza produz e oferece gratuitamente. Sempre achei que a inteligência, a cultura, a palavra, podiam aliar-se para benefício humano, contrariando séculos de barbárie e de ignorância, de soluções rudes, básicas e ignorantes, a resposta pela brutalidade, na ponta dos punhos e das armas. Era uma utopia minha que com o avanço histórico e cultural da Humanidade a humanidade se encontrasse, fizesse um acampamento…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Uma nova cultura que emerge
Crónica de Alexandre Honrado Uma nova cultura que emerge O quotidiano vai já respondendo a uma dúvida inquietante: há uma nova cultura emergente, uma mescla sobrevivente que resulta da desvalorização do ser, isto é, de todos nós, e é efeito perene dos muitos declínios que permitimos e que nos negaram a eternidade. Não há progresso sem conhecimento, e essa cultura é a do desconhecido. É um borrão feito sobre camadas mais sólidas, um palimpsesto, se é que ainda alguém sabe o que isso é. Traduz a falta de…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Cultivar para não banalizar
Crónica de Alexandre Honrado Cultivar para não banalizar “Banalizar a linguagem é banalizar o pensamento que ela veicula.” Teodoro Adorno (Adorno, 1999). Sabe-se hoje que na economia o peso da cultura é enorme – mesmo que o Orçamento Geral de Estado (quase) não a contemple, talvez pelo erro político habitual de que o Estado não sabe investir nem é bom gestor nas poucas áreas que lhe podem trazer retorno e notoriedade de curto, médio e longo prazo. Aliás, aprendemos que a expressão “economia da cultura” revela uma noção…
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