Crónica de Alexandre Honrado – Porco e açougueiro Ainda o discurso do ódio

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

 

Crónica de Alexandre Honrado

Porco e açougueiro
Ainda o discurso do ódio

 

À entrada de Lisboa, um cartaz político exibe à beira da estrada uma foto de uma senhora, negra, que faz a apologia de valores de direita. Na sua sabedoria de campo, diria uma antepassada minha que é o mesmo que um porco aceitar um convite para jantar do açougueiro, de facas afiadas, desejoso do seu toucinho e banhas. Nada mais contraditório, aquela presença naquele cartaz, com aquele discurso. Chegamos a ter pena da senhora, da sua ingenuidade, da sua falta de cultura e de raízes. Ela seria a última a poder valorizar aquele discurso e milhões de outros por ela lhe explicariam porquê. De certa forma, o discurso e o cartaz são colados sobre outro discurso, o discurso do ódio que tenho andado a referir. Para o direito “discurso de ódio é qualquer discurso, gesto ou conduta, escrita ou

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representada que seja proibida porque pode incitar violência ou ação discriminatória contra um grupo de pessoas ou porque ela ofende ou intimida um grupo de cidadãos”. É o que mais encontramos nos dias de hoje. Até nas escolas onde crianças que dificilmente sabem o nome do Presidente da República ou do primeiro-ministro, recitam frases que lhes são dadas a repetir: antes do 25 de abril é que era bom, aquele velhinho que nos governava é que era sério e punha tudo na linha. Pior, já ouvi dizer que este governo não faz nada pelos jovens, antes é que era! Pois era: sem livros, sem roupa, sem sapatos, sem liberdades, com guerra colonial, campos de concentração e de prender, coisas dessas que agora são branqueadas por alguns, cujos interesses são evidentes, mas os discursos são camuflados. Há muito a dizer sobre o discurso do ódio. Assim a liberdade nos permita!

 

Alexandre Honrado


Alexandre Honrado
Escritor, jornalista, guionista, dramaturgo, professor e investigador universitário, dedicando-se sobretudo ao Estudo da Ciência das Religiões e aos Estudos Culturais. Criou na segunda década do século XXI, com um grupo de sete cidadãos preocupados com a defesa dos valores humanistas, o Observatório para a Liberdade Religiosa. Dirige o Núcleo de Investigação Nelson Mandela – Estudos Humanistas para a Paz, integrado na área de Ciência das Religiões da ULHT Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa. É investigador do CLEPUL – Centro de Estudos Lusófonos e Europeus da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do Gabinete MCCLA Mulheres, Cultura, Ciência, Letras e Artes da CIDH – Cátedra Infante D. Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos da Globalização.

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