OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN) – Cuida bem quem está bem!

OPINIAO POLITICA MATILDE BATALHA

 

OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN)
Cuida bem quem está bem!

– Uma reflexão a partir do caso da morte de 11 animais num hotel canino –

 

No início deste mês foi noticiada a morte de 11 animais de estimação num hotel canino do Concelho de Mafra. Uma tragédia que se lamenta pela perda dos animais e pelo estado de saúde da responsável que cuidava deles. Não entrando nos detalhes, cuja complexidade total não se saberá, mas que de uma forma resumida se encontram descritos num artigo da Revista Visão de 14 de Agosto intitulado  “A verdadeira história por detrás do morticínio de cães no hotel de Mafra[1], importa fazer uma reflexão sobre como pode acontecer algo assim, como cuidadores de animais, pessoas que abraçam como missão a causa animal e a luta contra os maus tratos podem por em risco o bem-estar e a vida dos animais de que cuidam. Este não terá sido caso único e não será certamente o último, dando conta do muito que há a fazer no que diz respeito à prevenção da doença e literacia para a saúde mental. Pessoas mais bem informadas e numa cultura onde estas questões não são estigmatizadas, onde não há vergonha da expressão emocional, tornam-se mais capacitadas para pedir ajuda.

Não há saúde, sem saúde mental. A doença mental para além do sofrimento que traz ao próprio afeta a sua capacidade de cuidar de si e consequentemente dos outros. Afeta a capacidade de uma vida produtiva, de cumprir compromissos, responsabilidades e dependendo da gravidade do quadro, afeta a capacidade de tomada de decisão, podendo surgir alterações do pensamento, do humor e do comportamento que se traduzem em sinais e sintomas variados. Em casos graves perturba a avaliação e o contacto com a realidade. Associemos a este caso particular, uma separação, o isolamento, um contexto social de distanciamento devido à pandemia e temos os ingredientes para a desgraça que aconteceu (ressalvando que tudo o que possa dizer, nunca abarcará a verdadeira complexidade da situação e se constitui como hipotético).

Existem maus-tratos (sejam eles a animais ou a pessoas) que são consequência da falta de saúde mental. Um cuidador sem saúde mental tem grande probabilidade de ser um cuidador negligente (seja cuidador de animais ou de pessoas). Parece evidente que a proprietária, que durante anos deu provas do seu amor e trabalho em prol dos animais, não conseguiu pedir ajuda a tempo. Esperamos que esteja a receber agora a ajuda que precisa.

É cada vez mais importante normalizar a expressão emocional e dissociar os preconceitos associados às questões de saúde mental como a fraqueza, a preguiça ou falta de vontade.

Devemos lutar por uma sociedade mais informada sobre a saúde e doença mental de forma a que quem precisa possa pedir ajuda sem inibições. Urge construir uma sociedade com uma crescente cultura de auto-cuidado, orientada mais para a cooperação e menos para a competição, com mais tempo para a família e vida social.  Devemos reconhecer e aprender (desde criança) a importância de nos amarmos e que estar só é estarmos connosco e não abandonados; reconhecer a importância de expressar as nossas emoções para as melhor regularmos; aprendermos a nos colocar no lugar do outro desenvolvendo empatia e compaixão; aprendermos que grandes coisas se conquistam degrau a degrau e lidando com a frustração; aprendermos a importância do bom sono, da alimentação e do exercício físico.

Promover a saúde é um trabalho que o Ministério da Saúde devia apostar mais, sendo o enfoque remediativo, tratando a doença. Apostar na prevenção também faz parte e promover a saúde não pode ser algo que está apenas em folhetos, mas deve ser “receitado” desde pequenos. Não se pode dizer às pessoas, “o stress faz mal… durma mais… apanhe sol” e depois não criar as condições para que as pessoas tenham tempo para cuidar de si e dos seus. A ação tem de ser concertada a vários níveis e equipas de saúde mental têm de ser uma realidade.

[1] https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2021-08-14-a-verdadeira-historia-do-morticinio-de-caes-no-hotel-de-mafra/


Matilde Batalha
Psicóloga clínica e deputada municipal pelo PAN

 


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