OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN) – Se as árvores falassem…

OPINIAO POLITICA MATILDE BATALHA

OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN)
Se as árvores falassem…

Com muita frequência são denunciados o abate de árvores e situações de podas abusivas, mutilantes, nos mais diversos pontos do país. O concelho de Mafra não é exceção, como são exemplo as podas realizadas em março nas árvores da Avenida 1.º de Maio e das árvores perto da Escola Secundária José Saramago, vila de Mafra. Estes são exemplos de podas que consideramos nefastas para a árvore, não respeitado a natureza das espécies arbóreas nem as suas necessidades.

A poda e corte de árvores realizadas fora de época devida ou de forma abusiva, tem consequências negativas para a biodiversidade, nomeadamente para todas as espécies de aves, insetos, mamíferos, que encontram nas árvores o seu refúgio e o seu alimento, levando muitas vezes à queda de ninhos, à destruição de ovos e crias, e ao desaparecimento no concelho de espécies importantes para o equilíbrio dos habitats.

Sensibilizarmos as crianças, os munícipes para a proteção das árvores quando na rua se assistem a agressões ao arvoredo urbano, é contraditório. Uma árvore agredida ou abatida é uma árvore enfraquecida, que perde o seu equilíbrio, que ganha um maior risco de queda e de causar sérios prejuízos pessoais e materiais.

Os efeitos da crise climática são cada vez mais visíveis em todo o território português, e parece que alguns municípios se esquecem da capacidade do arvoredo em suavizar as temperaturas elevadas, particularmente durante as ondas de calor, que se fazem sentir cada vez com mais frequência. Estima-se que um coberto arbóreo superior a 40% pode reduzir a temperatura do ar até pelo menos 3,5ºC. Às árvores devemos ainda o equilíbrio físico e químico da vida na Terra, a qualidade da água e do ar, a renovação do ciclo de nutrientes e a qualidade da paisagem.

Nas zonas urbanas, a conservação do arvoredo é fundamental para, por exemplo, garantir a existência de corredores verdes e proporcionar um aumento da biodiversidade. Mas as árvores têm também uma função social extremamente importante, uma vez que proporcionam áreas de lazer, bem como permitem desenvolver atividades de caráter educativo e pedagógico.

Sem qualquer regulamentação que proteja o arvoredo urbano, será muito difícil Portugal cumprir as metas de descarbonização com as quais se comprometeu. Na verdade, dados da Global Forest Watch, colocam Portugal no ranking dos 5 países com maior perda percentual de coberto arbóreo (24,6%), com a Mauritânia (99,8%), o Burkina Faso (99,3%) e a Namíbia (31%) a encabeçar a lista. O cumprimento destas metas recomenda que por cada habitante devem existir nas cidades três árvores adultas. Urge uma mudança de políticas autárquica e nacional de proteção do arvoredo urbano.

As árvores desempenham um papel fundamental no nosso planeta devido às suas funções ecológicas e por serem seres vivos que devem ser respeitados. Faz sentido a existência de um regulamento municipal que inclua os deveres da autarquia bem como os deveres dos munícipes em relação ao arvoredo do concelho, as regras de gestão e planeamento do arvoredo no concelho, incluindo o abate, a poda e o acautelamento da proteção das espécies que dependem destas árvores. Seria um passo qualitativo significativo na forma como gerimos e preservamos o património arbóreo do Concelho.

Felizmente, somos cada vez mais os cidadãos e cidadãs que se organizam para salvar as árvores, desde os que formam cordões humanos para impedir o seu abate ou agressão até aos que denunciam os ataques e danos ao arvoredo.  Se as árvores falassem… que acham que diriam?


Matilde Batalha
Psicóloga clínica e deputada municipal pelo PAN

 


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