Opinião Política | Alexandre Nascimento (Partido Aliança) – O (não) ensino à distância

OPINIÃO POLÍTICA ALEXANDRE NASCIMENTO scaled

Opinião Política – Alexandre Nascimento (Partido Aliança)

O (não) ensino à distância

 

“Se existem determinadas áreas da nossa vida em que a tecnologia e o digital nunca conseguirão substituir a atividade presencial, uma dessas é, sem nenhuma réstia de dúvida, a Educação.”

Cada vez se escreve mais sobre as inúmeras possibilidades que esta pandemia veio trazer em relação às aulas à distância e a essa possibilidade (aparentemente magnífica) de se poder alternar o ensino presencial com o ensino digital. Daquilo que tenho lido, os nossos governantes ponderam, inclusivamente, aproveitar esta experiência para projetar um sistema de ensino mais polivalente nas nossas escolas e universidades num futuro próximo. Mais moderno… dizem eles!

Preocupante… digo eu!

Gostava que alguém me explicasse como é que é possível substituir um ensino que, para ser eficaz e ter qualidade, se baseia em relações de proximidade e de confiança mútua. Um professor dentro de uma sala não tem falhas de rede, a sua cara nunca fica pixelada e, como não tem um micro incorporado, a sua voz não se “ouve mal” e nunca se apaga. Dentro de uma sala de aula, um professor não tem que saltar de moldura em moldura, ou de janela em janela, para estar em contacto visual com a sua turma porque eles, os alunos, estão todos ali, à sua frente, no mesmo espaço. Durante uma aula na escola ou na universidade, um aluno não pode dizer que não ouviu porque o sinal falhou e não pode dar-se ao luxo de sair de uma aula a meio com a justificação que lhe faltou a cobertura. As aulas presenciais são 5G… Cinco dias de ensino Garantido! No ensino presencial os alunos têm sempre rede!

No espaço físico de uma aula, um aluno não pode colocar outras pessoas a realizar os trabalhos ou os testes por si porque, pura e simplesmente elas não estão lá. Neste tipo de ensino, os bons professores e os bons alunos saem igualmente prejudicados. E se quisermos ir para os extremos, um mau professor na escola é um péssimo professor atrás de uma tela e um aluno que na escola tem dificuldades é alguém muito prejudicado e que corre o risco de ficar para trás se estiver inseguro e perdido, dentro de um dispositivo eletrónico.

E bem podem os arautos da tecnologia e das soluções inovadoras vir apregoar o novo normal ou a chamada “educação do futuro” e vir defender que o caminho é por aqui. Conversa! Se existem determinadas áreas da nossa vida em que a tecnologia e o digital nunca conseguirão substituir a atividade presencial, uma dessas é, sem nenhuma réstia de dúvida, a Educação.

Ter aulas através de um dispositivo eletrónico é um processo impessoal, que, ao invés de promover laços, fortalecer relações de confiança e intercâmbio e promover a partilha de saberes e a conjugação de esforços, descarateriza o processo ensino-aprendizagem, afasta, tanto professores de alunos como alunos uns dos outros e, sobretudo, contribui para elevados graus de desmotivação.

Os níveis de interação são baixos, o sentimento de pertença é quase nulo e o tempo para esclarecer dúvidas e aprofundar conhecimentos praticamente inexistentes. Enquanto os bons professores (porque os há, e muitos) entram numa espiral de frustração por não conseguir desempenhar a sua função em condições minimamente aceitáveis e contribuir para o sucesso dos seus alunos, os “outros” professores (que, infelizmente, também abundam) aproveitam a circunstância para lecionar umas “coisas” que, nem de perto, nem de longe, se aproximam de uma verdadeira aula, para se limitarem a “cumprir calendário” e, pior que isso, para facilitarem na exigência e nas notas.

Depois são os alunos… e aqui o caso é ainda mais grave. Os desinteressados e preguiçosos esfregam as mãos de contentamento e aproveitam para não fazer nada, alheados do facto inevitável de estarem a perder o comboio, enquanto os bons alunos, os que trabalham, os que se esforçam, se vêm prejudicados por um cenário que não pediram e que não desejavam.

Mais do que qualquer outra estrutura da nossa sociedade, a Escola devia ser a primeira a premiar o mérito! O futuro do País não pode dar-se ao luxo de viver com a preguiça de uns e com a profunda desmotivação de outros.

Que esta experiência pandémica que a todos afetou, obrigue os responsáveis governamentais e os organismos ligados à Educação a fazer uma reflexão profunda e a criar mecanismos de defesa que garantam que, nunca mais, será necessário optar por um modelo de ensino à distância no nosso país.

Entrar para uma escola do 1.º Ciclo onde se começa a plantar a semente do nosso futuro, cumprir a escolaridade obrigatória que nos traz a primeira bagagem com vista à vida adulta, fazer um percurso académico sólido e consistente e preparar as novas gerações não é compatível com mosaicos de um ecrã de computador.

Ou então sim… se, em vez de promovermos o esforço e o mérito, quisermos premiar a preguiça, o copianço e a desresponsabilização. Mas depois não nos queixemos de que temos o País que temos. Não há milagres!

 

Alexandre Gomes do Nascimento

Vice-presidente

Partido ALIANÇA

Alexandre Gomes do Nascimento
Empresário, Vice-Presidente do Partido Aliança

Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de Alexandre Nascimento


As opiniões expressas neste e em todos os artigos de opinião são da responsabilidade exclusiva dos seus respetivos autores, não representando a orientação ou as posições do Jornal de Mafra


Leia também