Opinião Política | Mário de Sousa (CDS-PP) – A Fulanização empobrece a cidadania

MARIO DE SOUSA

A Fulanização empobrece a cidadania

 

“ «Fulanização» e «fulanizar» designam uma noção à partida não desejável. O seu significado encerra, …/…, uma carga depreciativa. Esta carga depreciativa resulta do indevido desvio de atenção da matéria de facto para um indivíduo com ela relacionado ou identificado. Deste desvio de atenção, resultam falta de objectividade, simplificação abusiva e consequente irrelevância da informação…”[i]

Da fulanização será interessante lembrar um dos problemas mais característicos do ambiente político do Concelho de Mafra:

  • A fulanização das eleições autárquicas pela fulanização das campanhas eleitorais.

A personalização da política com vistas à fulanização do poder democrático tem sido um dos grandes problemas, quiçá um dos maiores travões ao desenvolvimento de políticas duradoras, estruturantes e mobilizadoras do real bem-estar e qualidade de vida dos munícipes. Raramente se vê a implementação de medidas que durem mais do que uma ou duas legislaturas, e não raro os recursos financeiros dos municípios se veem delapidados por obras ditas ‘de regime’ ou que se resumem a meras passadeiras eleitorais que se estendem aos votantes.

O verdadeiro instrumento que possuímos para conduzirmos os nossos destinos é o voto; com ele afastamos ou premiamos o que queremos. Reduzir o poder do voto a um rosto é desconsiderar a nossa capacidade de discutirmos ideias, projetos, vidas. Nunca o trocar de uma cara por outra altera uma política ou uma forma de pensar. O projeto fulanizado apenas nos anuncia uma forma de perpetuação de uma política de poder.

O verdadeiro valor do voto só deveria ser utilizado na escolha do candidato / candidata que discuta com clareza o projeto político da sua equipa, os seus ideais e as suas convicções e nunca o seu nome, a sua imagem ou a sua capacidade de produzir obra de regime. O voto deve por isso privilegiar as ideias das pessoas e não as pessoas.

Vem tudo isto a propósito de na semana passada ter recebido pela hora de jantar, uma chamada telefónica de linha fixa feita por uma empresa de estudos de mercado e sondagens políticas Aximage[ii]. Dizia a senhora que ligou que estava a fazer uma sondagem política sobre a satisfação dos residentes em Mafra. Perguntei quem era o cliente mas como seria de esperar não sabia. Avancei e disse que sim. Depois das perguntas normais, idade, sexo, freguesia onde residia e escolaridade, veio a 1ª pergunta do questionário:

  • Conhece o presidente da Câmara Fulano Tal? – Gato escondido com o rabo de fora. Só fiquei sem saber quem estava a pagar; se o PSD, se o PSD Mafra, se a Câmara Municipal de Mafra. Seja como for, se foi a Câmara foram os nossos impostos diretos, se foi o PSD foram os nossos impostos indiretos via subvenção nacional.

Já não sei textualmente as perguntas mas depois lá veio o saber sobre a minha satisfação na mobilidade no concelho, nos SMAS, nas estradas, nas ruas, no lixo, na Polícia Municipal, na Proteção Civil, no apoio às empresas no COVID19, no apoio social às famílias, na educação, no turismo, etc, etc., vinte minutos bem conversados mas que não me elucidaram sobre uma questão que considero fundamental: onde é que o fato de conhecer o presidente da câmara influencia a minha satisfação ou insatisfação por viver em Mafra? Não tenho necessidade de o conhecer por fotografia ou saber o seu nome para poder avaliar se me sinto bem ou me sinto mal. Importante sim é saber quais as suas ideias e como as pretende realizar.

E já que falamos nisto, e porque vem aí o Orçamento Municipal para 2021, orçamento que vai ter como característica principal preparar o eleitorado para as Eleições Autárquicas do próximo ano, gostaria de lembrar o atual executivo que contemple nesse orçamento algum alívio para os munícipes. E para que não existam dúvidas nas espectativas por favor considerem:

1 – Redução da Taxa de IMI (no seguimento do que têm feito os concelhos limítrofes);

2 – Afetação de uma parte do IUC recebido pela CMM para redução das portagens nos acessos ao Concelho para os residentes;

3 – Cumprimento da promessa de redução da fatura dos SMAS (sem artifícios);

4 – Desafetação da taxa de resíduos sólidos do valor da água consumida;

5 – Aumento substancial das verbas destinadas a apoios sociais (depois de Março 2021 o fim das moratórias bancárias vão ser muito penalizantes para as famílias);

6 – Reforço significativo da verba destinada aos apoios às empresas do concelho afetadas pela pandemia (também estas após Março de 2021 vão estar em apuros);

7 – Reparação do alcatrão e sinalização horizontal deixados em muito mau estado pela empresa Gásfomento[iii] depois de ter instalado canalizações para o gás natural;

8 – Reparação dos passeios da Vila de Mafra que de tão estreitos, inclinados e polidos pelo uso são ratoeiras tremendas para os idosos;

9 – Contribuir para resolver de forma inequívoca os problemas da Unidade de Saúde de Mafra no que concerne à falta de recursos humanos e do tão falado problema do aparelho de RX;

10 – Implementar um Orçamento Participativo que permita aos munícipes participarem de forma ativa na valorização da sua cidadania contribuindo para o seu bem-estar e satisfação.

Discutamos ideias antes de discutirmos pessoas.

Mafra, 20 de Outubro de 2020

Mário de Sousa

[i] https://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha20_pt.pdf. No texto o Negrito é meu.

[ii] http://aximage.pt/

[iii] https://www.gasfomento.pt/

Mário de Sousao
Presidente da Comissão Política DConcelhia de Mafra do CDS-PP

 


Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de Mário de Sousa


______________________________________________________________________________________________________

As opiniões expressas neste e em todos os artigos de opinião são da responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores, não representando a orientação ou as posições do Jornal de Mafra

______________________________________________________________________________________________________

 

Leia também