Crónica de Jorge C Ferreira | Grandes Entrevistas

Jorge C Ferreira

Grandes Entrevistas
por Jorge C Ferreira

 

A televisão em Portugal tem muito lixo. Existem, no entanto, nichos muito interessantes. Não sou um crítico de televisão. Não o pretendo ser. Vou falar de vidas que valem a pena, vidas preenchidas que nos preenchem. Sou espectador da “Grande Entrevista”. Com a possibilidade de ver os programas a qualquer momento e poder escolher o que nos interessa, a televisão tornou-se mais apetitosa.

Uma entrevista deve valer pelo entrevistado. O que ele nos aporta. O papel do entrevistador, para além de pontuar os tempos e os ritmos. É saber ouvir e levar as vivências e ideias do entrevistado até nós. Tudo isso normalmente acontece neste programa de Vítor Gonçalves.

Falemos então da entrevista a Jorge Silva Melo. Actor encenador, cineasta, dramaturgo, crítico, tradutor e outras tantas coisas para onde a vida o levou. Considera-se a si mesmo um desarrumado metódico. A sua aventura pelas várias artes faz dele uma pessoa com vida. O ter vivido, estudado e trabalhado em várias cidades dá-lhe o mundo que é tão importante ter para nos conhecermos.

Adora ser sugado pelos actores. É uma paixão intensa que sente por eles enquanto deixa que o levem para sítios que não imaginava. Viu começarem a trabalhar Judi Dench e Helen Mirror. Foi preso em Portugal durante uma manifestação contra a guerra no Vietname. Partiram-lhe a cabeça, os óculos e sentiu uma alegria imensa. Acha que esse facto lhe ensinou a importância da alegria. «A alegria é uma coisa que nos engrandece.» – diz a determinada altura.

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A certa altura zangou-se com o Portugal melancólico, a mágoa do passado. Saiu de novo do País. Vai para Berlim onde encontra Peter Stein. O trabalho é importante e volta mais apetrechado.

A escrita que lhe interessa mais é o teatro. Diz que no teatro se escreve para o futuro. São palavras que vão ser ditas. Também viveu em Paris. Acha que aquilo por que lutou, as companhias independentes, foi derrotado. A rebeldia está hoje no D. Maria, o que é um contrassenso.

Acaba com a confissão de nunca ter encontrado o amor. Talvez a Paixão pela arte o não tenha deixado.

Falemos agora da grande aventura que foi a “Grande Entrevista” com Isabel Ruth. A eterna Ilda dos Verdes Anos. O filme de Paulo Rocha. Outra Mulher com Mundo e passagem por muitas Artes.

Saiu de casa e casou aos dezoito anos. Foi para Londres estudar ballet. Regressa e faz parte do grupo que inicia uma companhia de ballet, que vai ser o embrião da Companhia Gulbenkian de Bailado. É atraída pelo cinema. Torna-se no rosto do “Novo Cinema Português”.

Se tivesse que definir a sua vida numa palavra, diz que seria, “Aventura”. Aventura no sentido da descoberta e do aprender. É com esse espírito que decide ir para Itália. Onde priva com Bernardo Bertolucci e Pier Paolo Pasolini. Faz cinema e teatro. Com o dinheiro que ganha num filme de Roberto Faenza decide fazer a viagem da sua vida.

É de Londres que parte numa carrinha/caravana, acompanhada de um amigo, com o objectivo de chegar a Katmandu. É em Katmandu que se sente mais perto do céu. Esse lugar onde as estrelas são mais intensas.

Trabalha também em Espanha e França. Tem uma outra paixão, a música. É com uma bela canção sua que nos deixa.

Enquanto nos diz que a sua lição de vida é compreender o significado e o poder do amor. O amor é sempre mais forte.

Assim acontece televisão. Assim crescemos nós também. Assim somos levados a pensar que a vida essa eterna aventura vale a pena.

Vejam estas entrevistas.

«Que bela a vida dessas pessoas.»

Fala de Isaurinda.

«Vidas que valem a pena.»

Respondo.

«Hoje tens razão.»

De novo Isaurinda e vai, um sorriso na mão.

Jorge C Ferreira Agosto/2020(265)

Jorge C. Ferreira
Define-se a si mesmo como “escrevinhador” . Natural de Lisboa, trabalhou na banca, estando neste momento reformado.
Participou na Antologia Poética luso francófona: A Sombra do Silêncio/À Lombre du Silence;
Participou na Antologia poética Galaico/Portuguesa: Poetas do Reencontro
Publicou a sua primeira obra literária em 2019, “A Volta à Vida À Volta do Mundo” – Poética Editora 2019.

 


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16 Thoughts to “Crónica de Jorge C Ferreira | Grandes Entrevistas”

  1. Jorge C Ferreira

    Obrigado Regina. Gente importante. Gente com um conhecimento acima de si. Pessoas que não se põe em bicos de pés. O que a Televisão ganharia com estas pessoas! Abraço

  2. Jorge C Ferreira

    Obrigado Cecília. Sim. Temos de os ouvir. Falar com eles e deixá-los falar. Gente do mundo e tão nossa. Abraço

  3. Jorge C Ferreira

    Obrigado Cristina. Sim, gente que vale a pena. Gente com mundo, e uma vida cheia. Grato por estares aqui. Abraço

  4. Jorge C Ferreira

    Obrigado Eulália. Sim, minha amiga. Um excelente entrevistador. Um homem que já mostrou ser corajoso. Que dá visibilidade a muita gente que vale muito mais atenção que aquela que lhe dão. Abraço

  5. Jorge C Ferreira

    Obrigado António. A arte é desarmante, viola códigos e não se deixa aprisionar. A arte é amor. Amemos os artistas.

  6. Jorge C Ferreira

    Obrigado Isabel. Sim a arte e o amor pela arte. Fazer a arte com amor. Amar os artistas.

  7. Jorge C Ferreira

    Obrigado Ivone, infelizmente não há registo do teu comentário. Sei que o que escreveste foi lindo. Sempre grato. Beijinho.

  8. Jorge C Ferreira

    Obrigado Fernanda. Entevistar quem vale a pena e dar-lhes o palco, foi o que fez Vitor Gonçalves. Aproveita esse tempo único com os netos. Estas pessoas merecem muito mais. Abraço

  9. maria fernanda morais aires gonçalves

    Vi a primeira entrevista.Uma palavra para agradecer a Vitor Gonçalves a forma profissional como prepara todas as entrevistas que nos apresenta. Excelentes. Ele sabe o que faz.
    Agora o entrevistado Jorge Silva Melo grande figura do teatro e da cultura em Portugal. Impossível não nos apaixonarmos por este homem. Dificil acreditar que nunca tenha encontrado um amor. Só se compreende por ter andado tão absorvido pela paixão maior da sua vida, o Teatro.Deixei-me envolver pelos tempos que descreveu da sua vida em Londres onde passei um mês em 1972 e a cidade cinzenta que descreveu já ia tomando muito mais cor, com concertos em Hyde Park, Teatros, especialmente musicais, estreava-se Hair a que assisti e os grupos de manifestantes com polícia a acompanhar de forma pacífica viam-se a desfilar pelas ruas. Londres era uma cidade com muita arte e comparada com Lisboa era muito atrativa na miinha opinião.O Mundo mudou muito rapidamente naquela época.
    Gostei muito do discurso sobre a alegria de viver. Parabéns. Bato Palmas. Como se estivesse na plateia.!
    A Vida tem e traz acontecimentos muito bons e outros muito tristes. Vivamos com Alegria, sim amigos Jorges, no plural!
    Aproveitemos o que é bom, neste momento estou a gozar a companhia das minhas crianças maravilhosas (netos).

    Um deles à hora de almoço contou-me uma aventura incrível de Jogos “Minecraft”, Jogos de Sobrevivência em que tenho que construir abrigos -craftar-itens para sobreviver e derrotar várias ameaças. Construir o portal do nether e derrotar ameaças mais fortes. Depois sair do portal e pedir ajuda a aldeões e domesticar um lobo para ajudar nas batalhas (regras do minecraft).Derrotar vários endermans para conseguir fazer perolas do end e com isso poder ir para o portal do end e derrotar o inimigo mais forte o ender dragon e depois voltares para casa. Fim..

  10. ivone Teles

    Ontem deixei aqui o meu comentário à belíssima Crónica de Jorge C Ferreira. Por lapso, ( mas tenho agora a sensação de que estou certa), não tive a preocupação de deixar os meus dados de identificação, e o comentário não foi publicado.Como uma habitual leitora das Crónicas de Jorge C Ferreira,e sobre as quais habitualmente comento, se ainda for possível ,gostaria que fosse publicado. Como é escrito directamente não tenho qualquer ” rascunho” .Com os meus cumprimentos, agradeço._____Ivone Teles

  11. Isabel Maria Pinto Soares Torres

    A importância da cultura, nas suas diversas formas. Sempre. E a importância do amor, nas suas diversas formas. Sempre. Nenhuma sociedade é saudável sem ambas.

  12. António Feliciano Pereira

    O Teatro, o Cinema, e tantas outras artes são valores perenes que se confundem com sentimentos.
    Qualquer ser que não é artista tem a capacidade de apreciar a arte que
    vê de fronte de si: pode ser uma outra forma de arte!
    Um abraço, Jorge!

  13. Eulália Pereira Coutinho

    Grande tributo a Vitor Gonçalves, que faz da “Grande Entrevista “ um grande programa. Vidas que estão esquecidas ou desconhecidas e são fascinantes. A riqueza de experiências e experiências de vida admiráveis.
    Obrigada amigo. Um abraço.

  14. Cristina Ferreira

    Um programa que também procuro sempre ver. Excelente Vitor Gonçalves e sempre convidados de excelência.
    Muito bela a forma como nos transmites a beleza da vida . A beleza de gente bonita.
    Beijinhos e obrigada por esta crónica diferente, mas sempre com a chancela JCF.

  15. Cecília Vicente

    Há entrevistas preciosas onde os convidados se desnudam e mostram-se tal qual são o que me agrada e faz com entenda o que por algum motivo “estranho” me levava a não apreciar a figura. Não gosto de figuras públicas que exibem demasiado “Ego” . O que faz ler,ou interpretar sem ouvir da boca do próprio. Abraço meu amigo!

  16. Regina Conde

    Seres humanos ricos e enormes. Ambos conhecem intensamente o amor de forma diferente. O verbo desistir não é para eles. Amar pouco não faz parte daquelas pessoas.Tão bem nos contas duas entrevistas cheias de vida e alegria. Preciosas! Jornalismo sério. Obrigada Jorge. Abraço grande meu Amigo.

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