Viagem pelo património classificado do município de Mafra | Igreja de Nossa Senhora do Rosário

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Viagem pelo património classificado do município de Mafra:
Igreja Paroquial de Vila Franca do Rosário / Igreja de Nossa Senhora do Rosário

 

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário é uma Igreja paroquial rural, “de primitiva fundação quinhentista, que foi alvo de algumas “campanhas construtivas” que lhe deram a sua atual aparência barroca.

IVFR2“Desenvolve-se em dois registos, sendo o primeiro vazado por três arcos, separados por dupla pilastra lisa de ordem monumental com capitéis compósitos. Em cada uma das faces laterais abre-se, no piso térreo, um arco de volta inteira. Todos os arcos são encimados por janelões retangulares sobrepujados por áticas.”

O terramoto de 1755 deixou-lhe algumas marcas “ainda hoje visíveis no deslocamento de cantarias de pilares, pilastras, vergas e arcos consolidados da fachada principal, que permanece inconclusa, faltando-lhe grande parte da cornija e um possível frontão triangular o que permite supor ser parte de um projeto arquitetónico mais vasto.”

O seu interior apresenta um “esquema planimétrico básico, composto por nave única e capela-mor, de orientação canónica, iluminação bilateral, cobertura em abóbada de berço (decorada, neste caso, com um medalhão central figurando a entrega do rosário a São Domingos pela Virgem Maria), coro-alto adossado à parede fundeira (aqui sobre a galilé), assente em estrutura de madeira. Púlpito adossado à parede murária do lado do Evangelho, confrontante com porta travessa. Arco triunfal de volta perfeita, ladeado por dois retábulos confrontantes em talha dourada, que chanfram os ângulos da nave. Capela-mor com cobertura em abóboda de berço, ostentando um painel evocativo da lenda fundadora, parede testeira revestida com retábulo de talha dourada, tardobarroco, de corpo reto e três eixos verticais.”

 

Época Construção: Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor: Desconhecido

Materiais: Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, mármore, estuque, madeira pintada e dourada

Protecção: Imóvel de Interesse Público dsde 25 junho 1984

IVFR1Enquadramento: Urbano, destacado, isolado por adro parcialmente murado, ocupa uma posição altimétrica dominante, a nascente do centro da povoação. Confronta com o cemitério da vila, situado a este, frente à fachada posterior do templo. Nas suas imediações encontra-se, ainda, o edifício da junta de freguesia. Pela Rua da Igreja, para onde se encontra orientada a sua fachada principal, acede-se, a norte, à Rua de Nossa Senhora da Memória, onde, já fora da povoação se encontra a capela em memória do aparecimento da Virgem ao pastorinho Fernando.

Utilização:
Inicial
: Religiosa: igreja paroquial
Actual: Religiosa: igreja paroquial

Propriedade:
Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Afectação: Sem afetação

Intervenção Realizada:
DGEMN:
1985 – obras de reparação e consolidação da fachada, desmonte e reconstrução de paredes em alvenaria de pedra, desmonte e montagem de cantaria e refechamento das juntas, construção de cintas de travamento em betão armado no coroamento e ao nível dos arcos, reposição de cantarias deslocadas;
1986 – 1987 – obras de conservação: execução das abóbadas do nártex em betão.

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Cronologia
c. 1560 – data apontada para a edificação do primitivo templo, cuja origem a tradição liga a uma lenda, que narra o aparecimento da Virgem a um pequeno pastor, chamado Fernando, que por aqui andaria a guardar os bois do seu pai, ordenando a fundação de um templo em sua devoção no local, para onde deveria ser transportada uma imagem de Nossa Senhora, que encontrariam atrás de umas madeiras na igreja de Santa Comba, ali perto, indicando que não faltariam recursos à sua edificação; 1580 – data inscrita numa lápide tumular existente no pavimento da nave, o que permite pensar que a esta data a igreja já se encontra edificada; séc. 16 – desde o início da edificação da ermida que esta é alvo de círio a Nossa Senhora do Rosário, realizado no primeiro domingo de outubro e acompanhado da realização de feira franca, a qual terá estado na origem da fundação da vila; tem irmandade própria; 1594, 03 maio – nas Visitações de Enxara do Bispo, assinadas pelo desembargador da Relação Eclesiástica de Lisboa, Mateus Bernardes, e pelo pároco de Enxara do Bispo, Jorge Reguo, é criticado e proibido o clima festivo vivido pelos romeiros no interior da ermida, havendo cânticos e danças, que mais parecem pagãs, assim como é dada ordem para que a ermida encerre de noite, não sendo possível aos romeiros aí pernoitar; 1596, 22 novembro – novamente nas visitações é dada a proibição ao pároco de arrendar aos mordomos as ofertas dos devotos, em troca de estes lhes darem a beijar a imagem da Senhora do Rosário; 1626, 04 março – Filipe III (1605 – 1665) concede a Vila Franca a mercê de se passar a designar Vila Franca do Rosário, devido ao “fervor que estas gentes destes lugares têm a Nossa Senhora do Rosário” (Chancelaria de Filipe III, 3.º Livro das Mercês); 1755, 01 novembro – toda a freguesia de Enxara do Bispo sofre muitos danos com o terramoto; a igreja é bastante atingida, a sua fachada, que estaria inconclusa, passa a ostentar deslocamentos de cantarias em pilares, pilastras, vergas e arcos; 1758 – tem o lugar sessenta vizinhos, sendo o maior lugar da freguesia de Enxara do Bispo; a igreja recebe obras de reedificação; 1869, 06 julho – do inventário de todos os bens pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do lugar de Vila Franca do Rosário, freguesia da Enxara do Bispo, Concelho de Mafra, constam de 19 prazos arrendados a vários particulares moradores em Vila Franca do Rosário, e em lugares limítrofes, como Enxara do Bispo e Milharado; 1878 – no ofício do juiz perpétuo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, António Estanislau Bernardes, dirigido ao administrador do concelho de Mafra, relativo ao habitual envio do processo anual de contas, são dados esclarecimentos sobre gastos com obras e com a festa; 1885, 31 janeiro – por ofício do juiz perpétuo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Vila Franca do Rosário, dirigido ao administrador do concelho de Mafra, é referido o facto de a irmandade não dispor de cópia do seu Compromisso, o qual havia sido requisitado pela administração do extinto concelho de Azueira, a que pertencia, e, aquando da extinção, muito provavelmente, o compromisso terá seguido para a Administração do Concelho de Mafra; 1906, 27 maio – de acordo com o mapa geral de rendimentos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, no triénio 1903 – 1906, estes correspondiam a uma média anual de 71:181 réis; 1913, 31 dezembro – de acordo com o ofício do juiz da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, dirigido ao administrador do Concelho de Mafra, no qual remete a relação nominal, compõem a irmandade 26 irmãos; 1980, 16 abril – encontrando-se em estudo a proteção a conferir ao imóvel, é solicitado à DGEMN, pelo antigo Instituto Português do Património Cultural, o restauro da fachada principal que ameaçava ruina; 22 agosto – em resposta ao ofício do IPPC, a DGEMN, por ofício assinado pelo seu diretor-geral, engenheiro, João Miguel Castro Freire, informa que, na sua opinião, a fachada, que considera deveria estar inacabada aquando do grande sismo de 1755, pelo menos no que respeita a torres e eventual frontão, apresentando danos em cantarias, deveria ser consolidada de forma a evitar ruina, mas mantidas as suas características, como sendo um curioso exemplar resultante dos efeitos do terramoto; no mesmo documento, dá conta do relativo bom estado de conservação do restante imóvel, apresentando sinais de recente campanha de restauro, nomeadamente no interior onde existem sinais de recentes pinturas e douraduras, consideradas “exageradas”, pelo menos nos altares de talha; é parecer da DGEMN que o templo deveria ser classificado como imóvel de valor concelhio; 1981, 28 janeiro – é deliberada a classificação do templo como Imóvel de Interesse Público; 1982, 16 março – ofício do Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado de Lisboa, assinado pelo arquiteto Diogo Lino Pimentel, endereçado à DGEMN, dá conta do estado de iminente ruina em que se encontra a fachada joanina da igreja, o elemento que lhe valeu a recente classificação, solicita a intervenção técnica deste organismo, dando igualmente conhecimento da constituição de uma comissão local empenhada na consolidação da fachada, e do empenho do secretariado na apoio técnico à mesma; 1984, 25 junho – é publicada em Diário da República a classificação do imóvel como IIP (Decreto n.º 29/84, DR, 1.ª série, n.º 145); 1985, 27 setembro – é adjudicada, à firma Construções Anselmo Costa, a empreitada de recuperação da fachada do templo por 1.590.000$00, dos quais 500.000$00 serão comparticipados pela Comissão Paroquial de Melhoramento da Igreja de Vila Franca do Rosário; 1987 – conclusão da empreitada e entrega da obra.

[Fonte e fotos: DGPC]

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