Crónica de Jorge C Ferreira | Estórias da História

CRÓNICA DE 4
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Crónica de Jorge C Ferreira | Estórias da História

 

Estórias da História

Tanta estória contada. Tanta estória vivida. Tantos ecos ouvidos. Tanta fanfarronice. As estórias da história. A história que é lenda. A história para fazer heróis. O túmulo do soldado desconhecido. Milhares de viúvas. Velas e orações. Umas botas rotas, uma espingarda sem balas, umas pedras de outro mar. Um caixão vazio.

As peregrinações, as promessas, as lágrimas de dor. Um coração oco. Uma pedra no lugar do músculo. Os que não conseguem verter uma lágrima. As batalhas mal contadas. Os milagres acontecidos à hora certa. Os santos providenciais. O pão transformado em rosas. A Rainha Santa. A falta do pão. Batalhas e mais batalhas. Um conquistador, um povoador, um lavrador que era poeta.

“-Ai flores, ai flores de verde pino,

 se sabedes novas do meu amigo?

           Ai deus e u é?”…

(D. Dinis.)

«Dinis, atearam fogo ao teu pinhal.»

As estórias da história contadas por alguns. A maioria com finais felizes. Os príncipes e as princesas. O senão de Pedro e Inês. As lágrimas de sangue numa fonte de Coimbra. A nossa Verona, o nosso Romeo e Julieta. Corações moribundos e corações arrancados. Dramas, injustiças e vinganças. Espadas, punhais e venenos.

A ínclita geração. Os príncipes eleitos. Os descobrimentos. O delírio do mar. A Ponta de Sagres e a partida das Naus de Belém. O escorbuto, os naufrágios, as mortes e as enormes viagens. Chegar a sítios inesperados. As especiarias e o Terreiro de todas as trocas. O ouro do Brasil e o desnecessário fausto. Madeiras raras e raros hábitos. As cores e os ritos. O padrão dos descobrimentos e as cruzes forçadas. O mar imenso a ficar pequeno. O estreito de Magalhães e a viagem de circum-navegação. Chegar a lado nenhum.

As estórias da história que se vão seguindo. O Rei menino. O desejado e o nevoeiro que ainda não chegou. Camões dedica-lhe a sua obra. Todas as manhãs de nevoeiro há gente à beira-mar numa ânsia doentia. Fernando Pessoa percorre Lisboa e procura um Príncipe de corpo dourado. Ainda hoje há poetas apaixonados por este menino.

Tudo isto de pode ouvir nos cafés, nos transportes, nas salas mais recatadas. Há esplanadas de ver o mar onde, por vezes, nos parece ver naus no horizonte. Um marinheiro beija a mulher daquele porto num adeus que não sabe se é definitivo. Os filhos das aventuras tentam contruir países novos. A rota dos escravos continua noutros sentidos e de outros modos. Continuam os gastos sem razão. A mania do imponente.

Muito sereno este povo, sereno de mais, quanto a mim. Uns vão votando, outros nem isso. No momento em que escrevo este texto não sei o resultado das eleições. Suponho que sei em quem vota a rapaziada do café. Não serve de sondagem. Vou ter de esperar. Uma espera como “A Angústia do guarda-redes Antes do Penalty”.

Temos de acreditar no futuro. Temos de fazer com que haja futuro para os mais novos. Temos de ter confiança em nós. Temos de ser exigentes.

«Que coisa foste escrever para chegar onde chegaste. Olha, gostei!»

Voz de Isaurinda.

«Isto está tudo ligado. Temos um passado que se repercute no futuro.»

Respondo.

«Sim, sim. Domingo à noite venho ver os resultados contigo. Depois conversamos.»

De novo Isaurinda e vai, um voto na mão.

Jorge C Ferreira Outubro/2019(220)

 


Poder ler (aqui) as outras crónicas de Jorge C Ferreira.


 

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15 Thoughts to “Crónica de Jorge C Ferreira | Estórias da História”

  1. Jorge C Ferreira

    Obrigado Cecília. Saber ouvir os mais velhos é tão importante. É a eles que devemos muito do que somos. Ter tempo para o que é importante. Abraço

  2. Branca Maria Ruas

    Tens razão! “Isto está tudo ligado” mas há quem só se lembre do que lhe convém e se esqueça de muitas partes da história.
    Esquecimentos de conveniência ou pura ignorância?
    Ambição desmedida ou falta de sensibilidade?
    A eterna luta entre o Ter e o Ser!

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Maria. Estamos num tempo de esquecimentos premeditados. Esquecimentos por conveniência. O tempo dos malabaristas. Vamos Ser. Abraço

  3. Cristina Ferreira

    É fundamental preservar a memória da nossa História. E tu, querido Jorge proporcionaste-nos uma emocionante viagem pelo nosso passado que sem dúvida se repercute no futuro. Bem hajas por tão sábias e delicadas palavras.

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Cristina. Somos sempre resultado do que vivevemos, com quem vivemos, do que vamos aprendendo. Somos um processo evolutivo. Abraço

  4. Madalena

    Belíssima crónica! Um abraço, meu amigo

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Madalena. Abraço

  5. Romy

    Num dia que marcará a História do nosso país, sabe bem ler palavras que evocam (ou embalam?) passos que nos trouxeram até aqui.
    Um desfiar de preciosas pérolas de memórias, responsabilidades e receios tecidos de amor ao próximo _ esta crónica!

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Romy. Sim, esse caminho que não podemos esquecer. Saber continuar. Abraço

  6. Teles Ivone Teles

    Estórias da História, um texto muito belo e que não nos deixa esquecer o quanto este país tem de verdades, mentiras, esperanças, embustes. É o nosso chão e banha-o o TEU mar. Num ” Jardim à beira-mar plantado ” vão crescendo, vezes demais, ervas daninhas. É necessário arrancá-las, mas difícil. Andam restos salazarentos por aí. Um dia prometeste-me que desceríamos a Avenida braços nos braços. Lutemos por esse dia. ” Já murcharam tua festa,pá “, canta mais ou menos assim o Chico. Vamos criar mais História com outras estórias. Diz à Isaurinda que irá connosco. Os cravos vermelhos já estão plantados e vão crescer. Que texto bonito nos ofereceste. Beijinhos meu Amigo/ Irmão.

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Ivone. Mais uma vez disseste tudo. Só dizer-te que ainda vamos descer essa Avenida de braço dado. Abraço

  7. Fernanda Luís

    Genial crónica Jorge. “Isto está tudo ligado. Temos um passado que se repercute no futuro”. Verdade. Com os custos inerentes para o bem e para o mal. A esta hora já sabe os resultados das eleições. Mais estórias da história, não tardarão. Fico à espera.
    Parabéns pela bela escrita.

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Fernanda. Nunca esquecer o passado com os olhos postos no futuro. Abraço

  8. Cecília Vicente

    Outros tempos meu querido amigo…pelo que li e leio já quase ninguém tem a honra como palavra dada à verdade.Nem ninguém é fiel às promessas feitas. Somos uma geração de credibilidade,mas,pelo meio existe uma outra que renega as suas raízes,o seu ADN. Quero crer “AINDA” nesta nova geração que ouvem a voz dos avós,estes avós novos pais que de certo modo lhes estão a contar o antes dos seus pais que quiseram fazer carreira descurando a educação dos seus filhos. Mera opinião,ou,simples pensar meu…
    Abraço meu querido amigo.

    1. Jorge C Ferreira

      Cecília, a tua resposta ficou fora do lugar. É o primeiro texto. Desculpa. Abraço.

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