Folhetim | Casa de Hóspedes (17º. Episódio)

LICINIA QUITERIO
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FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério

 

Casa de Hóspedes (17º. Episódio)

O Zeferino, com o arzinho manhoso, metendo an, an, pelo meio, então pá, a Nandinha, explicações, não me digas, burra sai à mãe, burra mas ainda muito aproveitável, não achas, ó aproveitador, bocas eu, não sejas sonso, a mim é que não me calhou nenhuma, cala-te pá, se eu tivesse uma miúda como a tua não me queixava, ela não é para aqui chamada, pronto, andas esquisito, uma porra, isto é uma grande porra, os cabrões não caem, qual primavera, qual quê, vais mas é dar com os costados em África, nem penses, eu nunca, não me apanham, o ar da Bélgica é muito mais fresquinho, Angola é nossa, Angola é nossa a puta que os pariu, fala baixo que temos bufo cá em casa, digo, digo, cheira a bufo, fala como um bufo, veste-se como um bufo, quem, o Sr. Mário, o educadíssimo Sr. Mário, o gravatinhas, quem havia de ser, é pá não me digas, é pá, que tal um susto nas escadas, ai coitado desequilibrou-se, não deve ter visto o degrau, estás a morder, estou, és lixado, não é só desconfiança, sei de fonte se­gura, e digo-te mais, legionário, bufo e com um filho do reviralho, gostas, que tal, vamos pensar no encosto, não é ó pá, é assim, ou vamos ficar à espera que ele veja os retratos do Che e do Min aqui na parede, matar não, chiça, pô-lo fora de serviço, estás a topar, pensa nisso e bora lá à ginjinha que está a arrefecer à nossa espera.

Com o aproximar dos exames, das férias, a miudagem ficava mais brava, as feromonas em alta, nas aulas os professores viam-se gregos, só à bofetada é que os conseguiam sossegar. O Dr. Gonçalves Branco, esse era dos tesos, com aquela manápula de gorila assentava-lhes na tromba, no cachaço, como ele dizia, e se fosse preciso lá ia um pontapé nas canelas que se eles já têm corpo para a malandrice também podem aguentar um correctivo mais duro. Os pais, em geral, apoiavam-no e ele sentia-se o maior, o mais poderoso, ao ouvir, senhor doutor arreie-lhe que só se perdem as que caem no chão, se o malandro me perde o ano eu desfaço-o e vai direitinho para as obras para saber como elas mordem, da idade dele andava eu no monte com as cabras, pão escuro e azeitonas, sapatos nunca, saiba o senhor doutor que as minhas primeiras botas foram as da tropa, e ali me fiz um homem, agora esses paneleiros, desculpe senhor doutor, não querem ir à tropa, fogem, dizem que não gostam da guerra, eu também não gostava de ver o meu filho lá nas áfricas que os turras são o diabo em forma de gente, mas daqui até ele ter idade para isso a guerra acaba que a pretalhada não vai levar a melhor.

(continua)

 


Pode ler (aqui) as outras crónicas de Licínia Quitério.


 

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