Mafra | Assembleia Municipal – Só a CDU se mostrou contra o valor da indemnização à Be Water

Jornal de Mafra 2019.06.20 12h24m30s 010
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Assembleia Municipal – Só a CDU se mostrou contra o valor da indemnização à Be Water

 

A sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Mafra que ontem teve lugar foi integralmente dedicada à indemnização devida à empresa Be Water pelo resgate da concessão da água e do saneamento, levado a cabo pela Câmara Municipal de Mafra (CMM).

A indemnização, na ordem dos 25 milhões de euros, foi recentemente decidida por um tribunal arbitral. Para pagar esta indemnização, a CMM decidiu pedir um empréstimo bancário, o qual também ontem foi a aprovação da Assembleia Municipal.

Deve recordar-se que o apoio à remunicipalização da água e do saneamento foi unânime, PSD, PS, CDU e PAN mostraram-se de acordo neste projeto, havendo mesmo um representante do PS na Administração dos novos Serviços Municipalizados.

Na sessão de ontem da Assembleia Municipal,  o Bloco de Esquerda primou novamente pela ausência, e o PAN, representado por Matilde Batalha, não fez qualquer intervenção, limitando-se a votar a favor em todos os pontos da ordem de trabalhos. O PS, pela voz de Renato Santos, fez  uma curta intervenção, num tom pouco entusiasmado, onde defendeu as virtuosidades desta solução. A sessão, em termos de debate político, ficou pois entregue ao PSD, pela voz de Miguel Ângelo Correia, e à CDU, pela voz de José Martinez.

Jornal de Mafra 2019.06.20 12h25m14s 012A CDU, pela voz de José Martinez, votou a favor do ponto 2 da ordem de trabalhos – Acordo de aquisição de bens e stocks propriedade da Be Water, S.A – tendo-se abstido no ponto 1 –  Acordo de Transação relativo à extinção de responsabilidades do Contrato de Concessão – tendo votado contra todos os restantes pontos – Empréstimo bancário, Revisão do Orçamento Municipal e Revisão do Orçamento dos Serviços Municipalizados.

A argumentação da CDU passou por considerar a indemnização à Be Water como uma “delapidação dos impostos” dos munícipes, considerando que para além dos  25.424.208,47 € de indemnização apurados pelo tribunal arbitral, haveria ainda outros custos escondidos, nomeadamente:

  • Perdão das rendas em dívida (não quantificado);
  • Valor do saneamento em alta (não quantificado);
  • Valor da realização dos investimentos previsto no Plano de Investimentos não realizados pela Be Water (não quantificado);
  • Outros não identificados subjacentes ao período de transição.

Também no que se refere à aquisição de bens e stocks propriedade da Be Water, a CDU, pela voz de José Martinez, a CDU considerou tratar-se de um euromilhões saído à Be Water, afirmando que o seu valor “rondará os 260.000 euros de activos fixos tangíveis e 157.000 euros de stocks“. Finalmente, e no que respeita ao pedido de empréstimo para pagar a indemnização, a CDU afirmou não ver a “necessidade de um tão volumoso empréstimo. Recorda que as disponibilidades da Câmara, depositadas em entidades bancárias, a 31 de Dezembro de 2018, eram de 17 milhões de euros, valor que não há razão para se ter alterado significativamente“, afirmando ainda que “talvez faça sentido para fazer pagar os SMAS e consequentemente os consumidores de água e saneamento, os desmandos do PSD incluindo nos custos da água e saneamento valores de indemnizações suportadas por erros de gestão“, concluindo com a afirmação de que “esticar por 20 anos as perdas do “casino” da privatização da água é mais um dos malabarismos do PSD, desta vez com “auxiliar de ilusionista”, podendo esta última referência ser considerada como uma alusão ao PS.

Jornal de Mafra 2019.06.20 12h26m21s 015O contraponto da CDU coube ao PSD, pela voz de Miguel Ângelo Correia, que afirmou ter-se tratado de uma excelente negociação, uma vez que conseguiu conter em mínimos a indemnização a pagar à concessionária. Referiu depois que a atividade da concessionária se revelou meritória, tendo melhorado as condições do serviço, tendo também contribuído para que o concelho de Mafra apresente atualmente excelentes índices, no que diz respeito a fugas e perdas no abastecimento de água. Segundo este deputado municipal, na era Ministro dos Santos, a CMM terá tomado a opção certa concessionando o serviço, e na era Hélder Silva, para bem dos munícipes, impunha-se a sua retoma para a esfera pública, o que acabou de acontecer. A levar em conta as palavras de Miguel Ângelo Correia, fica a ideia de que a câmara de Mafra terá mesmo “passado a perna” à Be Water.

Mais uma vez, há que assinalar a posição pouco presidencial de Bizarro Duarte, enquanto presidente da assembleia, quando foi especialmente clemente com os tempos de intervenção dos elementos do público e de todos os restantes deputados municipais, só tendo chamado à atenção do deputado da CDU, no fundo, o único deputado que, substantivamente, “deu alguma luta” nesta assembleia, acabando por quebrar a unanimidade. Mais estranha, foi a posição – partidáriamente crítica – do presidente da assembleia, quando, após a última intervenção de José Martinez, e imediatamente antes de uma votação, comentou, com especial acinte e completo despropósito, as posições politicas, no caso, do deputado da CDU.

Os cientistas políticos são unânimes nesta matéria, em democracia, independentemente de quem se opõe a quem, um coro de unanimidades, nem à maioria serve.

Relativamente às intervenções do público nesta assembleia, fazemos dois destaques.

Uma intervenção do representante do STAL (Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins), que mostrou alguma preocupação relativamente às condições de integração dos trabalhadores da Be Water nos novos Serviços Municipalizados. A sua intervenção não mereceu qualquer comentário por parte do presidente da câmara de Mafra.

Interveio também José António Bento, livreiro e ex-dirigente associativo, que depois de fazer uma pequena resenha da sua atividade política e associativa no concelho de Mafra, chamou a atenção da assembleia para a existência de associações que não cumprem a lei, nomeadamente, não reunindo as respetivas assembleias gerais, não dando nota das atividades desenvolvidas e não apresentando as contas aos seus associados, nada disto impedindo que algumas delas sejam apoiadas por fundos públicos concedidos pela câmara de Mafra.

 

 

 

 

 

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