Viagem pelo património classificado do município de Mafra | Igreja de Nossa Senhora da Encarnação e São Domingos [Imagens]

Jornal de Mafra 2019.05.17 16h47m23s 020
[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup]

Viagem pelo património classificado do município de Mafra Igreja Paroquial da Encarnação

 

A Igreja Paroquial da Encarnação (antiga Lobagueira dos Lobatos), Igreja de Nossa Senhora da Encarnação e São Domingos, foi construída nos séculos 17 e 18 no local de uma ermida quinhentista, a ermida dedicada a Santa Catarina, tendo sido classificada como Imóvel de Interesse Público em setembro 1948.

É uma igreja urbana e implantada em adro “rodeado de construções e precedida por uma escadaria” e apresenta características “que se podem filiar numa estética barroca e rococó”.

Apresenta uma Planta poligonal composta “pela articulação longitudinal de dois corpos retangulares escalonados, de dois registos, correspondentes à nave e à capela-mor (…). O corpo da nave é, ainda, precedido pelo corpo retangular da galilé, que estabelece a ligação com as duas sineiras e com os dois alpendres fechados que percorrem a nave”.

No exterior apresenta um tratamento arquitetónico “(…) ainda que austero, bastante mais elaborado do que o habitual, apresentando uma fachada principal, monumental, de grande dinamismo, precedida de escadório, revestida a pedra aparelhada, centralizada pelo arco pleno de acesso à galilé encimado por janela de sacada com balaustrada entre pilastras estriadas. Sobre a cimalha encontra-se um relógio de quadrante circular que antecede a empena triangular recuada, interrompida lateralmente pelas duas sineiras, de desenho tardobarroco, altas, com ventanas de arco pleno, e cúpulas bolbosas vazadas por óculos, de construção tardia e possível influência da basílica mafrense (…)”.

O seu interior “encontra-se organizado segundo um esquema planimétrico básico, de nave única, com cobertura em abóbada de berço com painéis em estuque decorados, capela-mor e duas capelas laterais confrontantes, retabulares, profundas, protegidas por teia balaustrada em madeira, apresenta uma dinâmica decorativa representativa do barroco setecentista, prolixa em azulejo, talha dourada, estuque decorativo, pintura e mármore. Adossado à fachada principal encontra-se, ainda, um coro-alto servido de balaustrada de madeira, onde se encontra um órgão-armário setecentista”.

No seu interior existem azulejos “tipo tapete em tons de amarelo e azul, seiscentista” e azulejos figurativos “oitocentistas, azuis e brancos, com a “Adoração dos Pastores” e a “Adoração dos Reis Magos””.

O órgão histórico mais antigo do Concelho de Mafra foi instalado na Igreja da Encarnação em 1770 por Bento Fontanes.

 

Época Construção: Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor: ENTALHADOR: André de Freitas (c. 1753); ORGANEIRO: Bento Fontanes (atr., c. 1770).

Materiais: Cantaria calcária e alvenaria rebocada, azulejos, talha, óleo sobre tela, mármores, ladrilho e telha.

Protecção: O Imóvel está classificado de Interesse Público desde 29 setembro 1948 (Igreja da Encarnação (antiga Lobagueira dos Lobatos) e recheio)

Enquadramento: Urbano, isolado, implanta-se em adro rodeado de construções e precedida por uma escadaria.

Propriedade: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Intervenção Realizada:
1958 – Consolidação do arco da fachada principal e reparação do telhado da nave;
1959 – substituição do telhado da capela-mor;
1960 – consolidação do tecto da nave e arranjo dos telhados;
1961 – substituição do telhado da sacristia.

 

 

Cronologia
Séc. 16 – existia, no lugar da Lobagueira (atual Encarnação), morgadio instituído no século 14 por D. Miguel Lobato, uma pequena ermida dedicada a Santa Catarina, da apresentação do morgado e aberta ao culto; em finais da centúria o pequeno templo ameaçava ruina, razão pela qual, a população solícita ao então morgado, D. Jorge de Figueiredo (antepassado da atual Casa de Belmonte), licença para a reconstruir; a distância do centro religioso (São Domingos da Fanga da Fé), leva a que população local sinta a necessidade de aqui assistir ao culto; obtida a autorização inicia-se a reconstrução, no entanto, a obra rapidamente é embargada, por ordem do morgado, que quer ver garantido o direito ao seu padroado; 1604, 15 de setembro – início da obra sob os auspícios de D. Jorge de Figueiredo, com cerimónia de lançamento da primeira pedra e missa campal; Belchior Fernandes, barbeiro de profissão, residente na Lobagueira, é apresentado pelo morgado como ermitão da nova igreja; o morgado da Lobagueira encomenda uma imagem do orago ao cabido da Sé de Lisboa; 1610 – Domingos Ramos e outros moradores da Lobagueira transportam a imagem da capital para o templo da Lobagueira, segundo a lenda a imagem, que seria de Santa Catarina, a meio da viagem transforma-se numa imagem da Virgem, esta “encarnação” motiva a alteração do orago; 1611 – vendem-se candeias dentro da capela para a fábrica do novo templo; 1652 – por provisão sua, D. João IV (1604 – 1656) determina que as esmolas dadas na Ermida de Nossa Senhora da Encarnação sejam empregues nas suas “verdadeiras e necessárias” obras, no entanto, estas decorrem lentamente; 1661 – data de um arcaz da sacristia; séc. 17 – silhares de azulejos de padrão seiscentista, em tons de azul e amarelo, que revestem as paredes da nave da igreja; 1709 – é concedida licença para a celebração de missas cantadas; posteriormente, D. João V (1689 – 1750) permite a realização de duas feiras francas, nos segundos domingos e segunda-feira dos meses de setembro e outubro, onde apenas é cobrado um pequeno imposto de terrado, usado a favor das obras da igreja; 1753 – aquisição nas oficinas lisboetas dos painéis de azulejo historiados, representando a Adoração dos Pastores e a Adoração dos Reis Magos, para a capela-mor, assim como, para esta mesma capela seis telas com cenas da Vida da Virgem; capela lateral do lado do Evangelho, dedicada a São Pedro, com retábulo de mármore, cujo modelo poderá ter tido origem nos retábulos da Basílica de Mafra (v. IPA00006381); 14 outubro – aquisição de vários trabalhos em talha, a António de Freitas, que a seu pedido são avaliados em 733$400 réis pelos mestres-entalhadores Manuel de Jesus Abreu, por parte do padroeiro, Rodrigo António de Figueiredo, e por Santos Pacheco, pelo mestre-entalhador; 1758 – de acordo com a informação recolhida nas Memórias Paroquiais, a freguesia de São Domingos de Fanga da Fé sofreu grande dano com o sismo de 1755, tendo a igreja paroquial ficado em ruínas, pelo que o culto é transferido para a Ermida de Nossa Senhora da Encarnação, junto ao limite da freguesia de Santo Isidoro, que assume a dignidade de Igreja Paroquial; c. 1770 – execução do órgão, por Bento Fontanes (c. 1705 – 1770); 1790 – é concedido alvará para colocar de maneira honrosa o Santíssimo Sacramento na igreja; 1791 – levantamento da nave em mais 10 palmos e construção das duas torres sineiras, por mestres-pedreiros oriundos da Murgeira, sendo então administradores da comissão fabriqueira, o Padre Francisco Bernardes, seu cunhado Thomaz Bernardes Franco dos Santos, António Bernardes e João Rodrigues; séc. 20, inícios – D. Maria Benedita da Assunção Bernardes deixa em testamento a residência paroquial; 1910 – com implantação da República, a autarquia quis, sem êxito, anexar esta casa e a igreja; 1922 – depois de vários pleitos, acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, reconhece o direito de propriedade da igreja e confrarias à família dos condes de Belmonte; 1948, 29 setembro – a igreja é classificada como Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 37:077, publicado no DG, 1.ª série, n.º 228); 1955, 19 agosto – os descendentes do terceiro conde de Belmonte doam a igreja ao Patriarcado de Lisboa; 2004 – restauro do órgão pelo mestre Dinarte Machado (1959 – ).

[Fonte: DGPC]

 

Leia também