EDITORIAL | Abandono do glifosato por bondade (ou por medo)

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Abandono do glifosato por bondade
(ou por medo)

 

A Câmara Municipal de Mafra assinou ontem, em conjunto com todas as Juntas de Freguesia do concelho, um manifesto que representa a adesão ao programa da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) designado “Autarquias sem Glifosato/ Herbicidas”.

Muitos, mas muito anos depois de este tema ser discutido em todas as legislaturas da Assembleia Municipal de Mafra, inicialmente por iniciativa do partido os Verdes (CDU), secundado depois pelo PS e mais recentemente pelo PAN, sendo quase sempre tema de uma moção anual, sempre derrotada pela maioria absoluta do PSD, precisamente a mesma que tomou ontem, com pompa e circunstância, a iniciativa de banir o glifosato das ruas e dos jardins do concelho de Mafra.

Diz o povo, que “mais vale tarde do que nunca”, poderia pois pensar-se que a maioria política do PSD, que governa o concelho em continuidade há muitas dezenas de anos, teve uma epifania, quem sabe, de origem religiosa e, compulsivamente, decidiu que o sapato que durante tantos anos não lhe magoava o pé, de repente passou a comprimir-lhe o joanete. Sendo o caso, para quem acompanha o fenómeno político em Portugal, nada disto será inovação, uma vez que as cambalhotas políticas fazem parte do quotidiano nacional, de resto, creio que o país nem seria o mesmo, se lhes fizéssemos (às cambalhotas) o mesmo que acabou de acontecer ao glifosato.

Durante a cerimónia de ontem, a que já aludimos, e da qual não foi dado conhecimento prévio à comunicação social, o Presidente da Câmara de Mafra, terá afirmado que “[…] as autarquias estão unidas no mesmo propósito que é preservar o ambiente […]”, na realidade trata-se de uma iniciativa positiva e necessária da qual beneficiarão todos os munícipes – mas que chega tarde.

Na capacidade de antevisão política e de resposta atempada aos anseios das populações, no que respeita ao “propósito que é preservar o ambiente“, falhou a câmara de Mafra em toda a linha. Chegou muitos anos atrasada e só agiu depois de muito empurrada, muitas vezes, por todos os partidos da oposição.

Mais do que isso, devemos interrogar-nos, como fez recentemente o presidente da comissão política do CDS-PP Mafra, Mário de Sousa, num  artigo de opinião no Jornal de Mafra, se esta epifania ecológica da gestão camarária mafrense, não se fundará mais no receio de ver a GNR “entrar-lhes portas adentro“, ironicamente, pelas mãos da própria Quercus (comunicado de 11 de março), do que num repentino e quase religioso “rancor” ao glifosato.

De qualquer modo, mais vale uma epifania sem glifosato, do que continuarmos a assistir, no concelho, a santas pulverizações com o glifosato da Bayer. No entanto, as palavras seguintes proferidas por Hélder Silva na referida cerimónia, não nos deixam tranquilos. “[…] na medida em que se verificará dificuldade de manutenção dos mesmos níveis de limpeza urbana sem recurso a herbicidas sintéticos, apelando à compreensão e colaboração dos munícipes“, disse. Veremos, pois, com o passar do tempo, o que é que esta advertência política, significará na realidade das nossas ruas.

 

Paulo Quintela
Diretor do Jornal de Mafra

 

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