Crónica de Alexandre Honrado | Da antiga Grécia com amor

CapaAHonrado
[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup]

DA ANTIGA GRÉCIA COM AMOR

 

Foi muito provavelmente a migração – a necessidade de andar de um lado para o outro – e os combates pela sobrevivência, de todas as espécies, do simples procurar de alimento ao confronto físico para o obter – que pôs em confronto, mais do que os homens, as suas ideias.

As superstições orientais tornaram-se débeis, e a ocidente os mitos estremeceram até perderem o seu lugar na imaginação.

Os conflitos práticos, por exemplo entre os trabalhadores da terra e os seus proprietários, lançaram ideias de justiça.

O percorrer distâncias – dos olhos que se erguiam aos céus até aos barcos que cumpriam milhas marítimas – estabeleceu na inteligência a compreensão ( e a vontade de compreender) os factos da natureza. De repente os homens já não criavam deuses para se explicarem, mas, talvez para sua amargura, percebiam que havia afinal causas para os efeitos.

Na Ásia Menor, em Mileto, dava-se um passo enorme seis séculos antes da era de Cristo. Aplicava-se a curiosidade universal aos fenómenos do mundo exterior.

Tales, homem sábio de Mileto, afirmava que toda a extensão marítima e a vida de que dela nasce equivalia ao elemento a partir do qual se constituiu o mundo. A partir de então o problema da natureza das coisas foi retomado por todos os que se lhe seguiram. Avançou-se, mesmo encontrando pelo caminho obstáculos enormes, que defendiam o retrógrado e a mera superstição.

Ainda hoje os hábitos da imaginação e as espantosas novidades científicas entram de vez em quando em conflito.

A antiga Grécia permitiu a construção do mundo à luz das ideias que o explicam.

O sábio Anaxágoras dizia que todas as coisas contêm em si (confundidas e invisíveis por essa mesma mistura) os “germes de todas as coisas”. Para ele, os fenómenos eram um vislumbre do obscuro – o que faz do obscuro coisa simples e explicável.

A abertura e a confiança das elites gregas na virtude organizadora da inteligência, no poder universal e dominador das artes, é todavia acompanhada de um profundo abalo moral.

Que leitura podemos fazer no tempo presente, em que fechamos a confiança e não impulsionamos a virtude organizadora da inteligência? Que vivemos um profundo abalo moral às avessas dessa época tão fecunda?

É por desconhecermos que nos equivocamos. E é por equívoco que estamos a tornar-nos (todos nós entre todos nós) tristes desconhecidos?

 

Alexandre Honrado
Historiado

Leia também