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Saúde Mental e Ocupacional | Fernando Nunes

 

Cuidador Informal – Quem é, o que sente, quais as dificuldades, quais os apoios?

Todos os dias se ouve falar da figura do cuidador informal.

Dito assim, parece que nos referimos a uma qualquer entidade que cada vez mais surge no discurso político como alguém sobre o qual pouco se conhece mas que assume um papel cada vez mais importante na sociedade em que vivemos.

O sítio da Internet Cuidador Informal apresenta a seguinte definição em 2007: “O Cuidador é toda a pessoa que assume como função a assistência a uma outra pessoa que, por razões tipologicamente diferenciadas, foi atingida por uma incapacidade, de grau variável, que não lhe permite cumprir, sem ajuda de outro (s), todos os atos necessários à sua existência, enquanto ser humano”. Mas esta definição é demasiado geral. Se pensarmos que os auxiliares de lar, os enfermeiros, os médicos, enfim, todos os técnicos de saúde cuidam daqueles que não estão capazes de se bastar a si próprios, então onde reside a diferença?

No artigo do jornal E-Konomista é explicada a diferença: “O cuidador informal é a pessoa que presta cuidados e assistência a outros, sem qualquer remuneração“. E quem está disponível para prestar cuidados  e assistência a outra pessoa de forma não remunerada? Habitualmente, a família. As mães, as esposas, as filhas, as irmãs… E os pais, os maridos, os filhos, os irmãos… E os amigos e amigas, vizinhos e vizinhas…

São também conhecidas as dificuldades que os cuidadores informais experienciam. A saúde física e emocional são aquelas que são mencionadas logo de início. Cansaço, stress, irritabilidade, insónias, tristeza, diminuição das forças, dores no corpo, nomeadamente lombalgias e outras, são sinais que o cuidador também já se encontra em sofrimento. Contudo, outras facetas da vida do cuidador são afetadas. Começando pelas relações sociais: o simples facto do cuidador se encontrar empenhado no cuidado ao seu familiar afasta-o muitas vezes do contato com a sua rede social de conhecidos, amigos, mesmo outros familiares. Ora, é sabido que uma vida relacional adequada contribui para o bem-estar da pessoa. Se o contato social se tornar diminuto ou inexistente é fácil prever que o cuidador se vai ressentir desse facto, agravando assim as dificuldades que já sente.

O sentimento de não reconhecimento pelo seu trabalho efetuado, tanto pela pessoa cuidada (por vezes, a pessoa cuidada até recusa a ajuda!) como pelas outras pessoas, o acréscimo de tempo usado para as tarefas do cuidado, ajudam a diminuir a auto-estima e provavelmente a auto-imagem que o cuidador tem. O tempo dedicado ao outro acaba por consumir o tempo que devia ser dedicado a si próprio.

Outra circunstância, já mencionada na definição de cuidador informal, é a não remuneração. Existe assim um peso acrescido: as dificuldades económicas tendem a agravar-se porque um dos elementos do agregado familiar deixa de poder participar no esforço do sustento da família. E esta questão assume uma importância fundamental porque é outra forma de não reconhecimento.

Além do que já foi mencionado, outras necessidades são sentidas pelo cuidador informal.

O apoio emocional é fundamental naqueles momentos em que tudo parece escuro, triste, sem esperança. Informação sobre a própria doença pode ajudar a compreender as reações do familiar doente e assim lidar com situações que de outra forma seriam geradoras de stress. Aconselhamento é também uma dificuldade sentida: o que fazer, quando fazer, a quem pedir apoio. Em última instância, o internamento programado para descanso do cuidador pode ser uma ferramenta que proporciona ao cuidador tempo para si próprio, para repousar, para recarregar energias.

Surge agora uma esperança. Como foi afirmado no início, o problema já entrou no debate político. Prevê-se a criação do Estatuto do Cuidador Informal já na próxima revisão da Lei de Bases da Saúde. Aliás, a equipa liderada pela Dra. Maria de Belém Roseira, tal como noticiado pelo Diário de Notícias em nos finais de Junho de 2018 (ver aqui) já terá contribuído para o estabelecimento desse estatuto, que é apresentado na pré-proposta de apresentação da Lei de Bases da Saúde (ver aqui).

 

Fernando Nunes, enfº especialista em saúde mental e psiquiatria

 

Bibliografia:
https://www.cuidador.pt/
https://www.e-konomista.pt/artigo/cuidador-informal/https://www.e-konomista.pt/artigo/cuidador-informal/
https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/9936/1/Miriam%20S%C3%ADlvia%20Nascimento.pdf
https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2018/06/LEI_BASES_18062018_pre_proposta_apresentacao_INSA.pdf
https://www.dn.pt/portugal/interior/cuidadores-informais-proposta-do-governo-ja-integra-estatuto–9517528.html1

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