NOTA DO DIRECTOR || Mafra – Nem com uma deputada ao piano conseguimos trabalhar com equidade

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NOTA DO DIRECTOR DO JORNAL DE MAFRA

[Esta nota foi enviada hoje ao Director do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira]

 

Lamento profundamente ver-me na necessidade de lhe remeter este email, no entanto, como compreenderá, não podia deixar de o fazer. Na realidade no sábado passado, 9 de Junho, nem com uma deputada ao piano (Gabriela Canavilhas), a fotógrafa do Jornal de Mafra conseguiu fazer cabalmente o seu trabalho, em função das limitações que lhe foram impostas ad hominem.

Já no concerto de encerramento da edição de 2017 do Festival de Música de Mafra “Filipe de Sousa”, uma organização da Câmara Municipal de Mafra, realizado também na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (PNM), encontravam-se presentes três órgãos de comunicação social (OCS), a Saloia TV (OCS alojada num edifício da Câmara Municipal de Mafra (CMM) onde funciona uma incubadora de empresas), o jornal “O Carrilhão”, um jornal de inspiração católica, e o Jornal de Mafra (JM). Quando o JM chegou ao local, dentro das baías que habitualmente separam o público das estantes da biblioteca, encontravam-se já o fotógrafo da CMM e os jornalistas da “Saloia TV” e do jornal “O Carrilhão”. A fotógrafa do Jornal de Mafra dirigiu-se ao local onde se encontravam já os jornalistas e o fotógrafo da CMM, tendo sido impedida de o fazer por uma funcionária do PNM, certamente, cumprindo ordens. Depois de contactada a responsável pela Biblioteca, a situação foi então esclarecida, tendo sido concedidas aos três fotógrafos as mesmas condições de trabalho, como manda a lei e o simples bom senso requer.

Um ano volvido, nova edição do Festival de Música de Mafra “Filipe de Sousa”, uma organização da Câmara Municipal de Mafra, e novamente se verificam, no mesmo local, os mesmos problemas de acesso e a mesma discriminação. Desta vez, dentro das baías encontra-se só o fotógrafo da Câmara Municipal de Mafra e outra funcionária da CMM a tomar imagens vídeo (como sabe, os restantes OCS do concelho alheiam-se habitualmente das iniciativas do Palácio Nacional de Mafra; nessa mesma tarde, numa outra iniciativa que decorreu no palácio, só o JM esteve presente, como acontece em muitas outras ocasiões). Requerido acesso ao local, para recolha de imagens, foi negado esse acesso à fotógrafa do Jornal de Mafra. Razões invocadas, as habituais, “porque sim, que eram ordens”, foi a resposta da funcionária do palácio que impediu o acesso à fotógrafa. Embora a fotógrafa tenha, na altura, mostrado o seu desagrado, desacordo e protesto pela discriminação profissional a que estava a ser sujeita, nunca foi contactada por qualquer responsável da direção do palácio.

As restrições impostas à fotógrafa do Jornal de Mafra influenciaram negativamente o trabalho que apresentámos aos nossos leitores. Embora alheios às razões que nos obrigaram a realizar esta reportagem, enquanto um trabalho menos conseguido, apresentámos já as nossas desculpas aos nossos leitores.

Não foi possível obter imagens com boas condições de luz, pois tivemos sempre de fotografar de frente, tendo um foco a incidir sobre a objetiva da máquina fotográfica, não fomos autorizados a obter imagens laterais aos músicos, não foi possível fotografar (ou filmar) a primeira fila da assistência ou  fotografar (ou filmar) de frente o conjunto da audiência que assistiu a este espetáculo organizado num espaço público, organizado por uma entidade pública, num espaço tutelado também (queremos crer) por outra entidade pública.

Não requeremos acesso especial, não queremos tratamento diferenciado, do mesmo modo que não queremos estar alojados em edifícios municipais, não queremos subsídios públicos, nacionais ou locais, não queremos nem mais, nem menos condições de exercício da nossa actividade de informar, do que aquelas que são proporcionadas a todos os órgãos de comunicação social ou a entidades que exercem a sua actividade no mesmo contexto e no respeito pela lei.

Lamentamos profundamente estes acontecimentos, pelos quais preferiríamos não ter passado, lamentamos também ver-nos obrigados a tornar pública esta situação, mas infelizmente, não podemos deixar de o fazer, até porque se trata de uma reincidência.

Num concelho onde se desconhecem notas de agenda e onde o acesso às fontes é habitualmente uma miragem, o exercício da profissão torna-se num sobressalto permanente, e não o deveria ser.

Em função do que fica dito, perguntamos:

  • Quem tutela, na realidade, o espaço da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra? O Palácio ou a Câmara Municipal de Mafra?
  • Quem autorizou, no passado sábado, 9 de junho, o fotógrafo da Câmara Municipal de Mafra a tomar imagens atrás das baías? Foram responsáveis da Câmara Municipal de Mafra ou do Palácio Nacional de Mafra?
  • Que razões sustentaram da proibição imposta à fotógrafa do Jornal de Mafra de recolher de imagens atrás das baías, no mesmo local onde permaneceu o fotógrafo da Câmara Municipal de Mafra e a funcionária camarária encarregue da recolher imagens vídeo?
  • Que entidade proibiu, na realidade, a fotógrafa do Jornal de Mafra, de recolher imagens atrás das baías, foi a ordens da direção do Palácio ou a ordens da Câmara Municipal de Mafra?

 

Paulo Quintela
Director do Jornal de Mafra

 

[Esta Nota foi também enviada a todos os partidos representados na Assembleia Municipal de Mafra e ao CDS-PP Mafra, bem como à deputada Gabriela Canavilhas, também reputada pianista, que se apresentou nessa qualidade no evento em apreço]

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