OPINIÃO POLÍTICA | Alexandre Seixas – Hoje, um desafio…

Hoje, um desafio…

A opinião e a visão de um habitante recente de Mafra

 

Porque temos de conseguir pôr-nos no lugar do outro, ouvir opiniões diversas que nos obriguem a sair da nossa zona de conforto, em suma, porque temos de assumir alguma alteridade, para “ver as coisas com outros olhos”, decidi desafiar um munícipe recente do nosso concelho a pôr por escrito a sua experiência. Aqui fica o testemunho…

 

“Convidaram-me, como habitante recente do Concelho de Mafra, a esboçar uma opinião sobre o que vou depreendendo no meu dia-a-dia.

Quando comento que vivo no Concelho de Mafra, respondem-me sempre o quão bom é viver no sossego às portas de Lisboa. E é bem verdade que é maravilhoso poder observar o bucólico do campo e da natureza, respirar ar puro, trocar dois dedos de conversa com o vizinho, enfim, ter alguma qualidade de vida a escassos 30 minutos da Capital.

E tudo isto é de facto fantástico, mas a qualidade de vida neste Concelho paga-se, e bastante bem. Não me parece que a mesma, bem como o acesso a serviços básicos de saúde, a existência de redes de saneamento e de transportes públicos, assim como o acesso à cultura e aos equipamentos culturais, sejam bens de luxo.

Provavelmente dir-me-ão que esta é a contrapartida em viver no campo às portas de Lisboa… mas, menciono apenas coisas básicas para o dia-a-dia. A água é um bem essencial à vida e todos temos direito a uma habitação, mas isso não pressupõe que tenhamos de pagar valores absolutamente escandalosos pelos mesmos.

Diz a Constituição da República Portuguesa, que todos têm direito à habitação e à proteção na saúde, (outra questão que me parece algo vaga em Mafra). A mesma Constituição que nos restituiu o direito à Liberdade: a Liberdade de expressão e de opinião, a Liberdade de imprensa, a Liberdade de poder ingressar num partido político que não pertença à “maioria reinante” e de não ser prejudicado profissional e pessoalmente pelas filiações ou pensamentos partidários não serem os mesmos. Em lado algum, uma pessoa deve ser preterida a nível profissional pela sua ideologia.

Ainda dentro da temática da Liberdade, que por aqui parece tão esquecida e menosprezada, questiono-me como é possível não se celebrar Abril e a Democracia no Concelho?!?!

Por forma a terminar estas minhas linhas, não consigo deixar de contar o seguinte: há algum tempo tive a oportunidade de assistir a uma Assembleia Municipal, e o que presenciei deixou-me num estado de estupefação: vi chumbada pela maioria uma proposta que “apenas” defendia a inclusão social do cidadão surdo nas Assembleias Municipais, através do recurso a um intérprete de língua gestual Portuguesa. Passa-se que o cidadão surdo também vota, paga a sua água, o seu IMI, a sua qualidade de vida no Concelho. Será que o problema foi a proposta apresentada não ser da maioria, mas sim apresentada por partidos de esquerda e humanistas, ou será que para alguns, existem cidadãos de primeira e de segunda no Concelho?” I.E.

 

Pegando nas palavras deste “mafrense adotivo”, já confessamente rendido ao nosso “torrão”, como diria Miguel Torga, mas ainda atento ao que o rodeia e até institucionalmente interessado e ativo, tanto há a dizer e a considerar sobre o Concelho de Mafra: a título de exemplo a baixa taxa de desemprego no Concelho que acompanha a tendência nacional, mas aqui maioritariamente à custa de uma mão de obra barata e de baixa qualificação. Um dos aspetos em que Mafra está mais em dissonância com o país, aspeto esse, que até enquadra um dos vetores da moção de estratégia do nosso primeiro ministro na intitulada “Geração 20/30”, (que vos desafio a ler e conhecer seguindo a ligação: http://www.ps.pt/wp-content/uploads/2018/04/Mocao-Geracao-20-30_AntonioCosta_2018.pdf) , é a Demografia. Aqui em Mafra, temos bastantes jovens e por isso temos de aproveitar esse fator importante para o futuro e reconhecê-lo como um fator crítico de sucesso! Uma sociedade que se renova é uma sociedade equilibrada!

E que fique bem claro, que eu lutarei e sei que o PS também lutará sempre, por políticas de promoção da sustentabilidade que enquadrem naturalmente uma premissa indiscutível… todos somos iguais, na perspetiva da igualdade e não do igualitarismo e, portanto, pegando mais uma vez nas palavras do meu “desafiado”, não aceito, não aceitamos, que aqui no Concelho de Mafra existam cidadãos de primeira e cidadãos de segunda!

 

Alexandre Seixas, maio de 2018

 

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