MESMO | Dia Mundial da Doença Bipolar

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Saúde Mental e Ocupacional | Maria João Avelino

 

Dia Mundial da DOENÇA BIPOLAR

No dia 30 de Março comemorou-se o Dia Mundial da Doença Bipolar. A Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, ADEB, com o apoio da Direção Geral de saúde DGS assinalou esta data com o lançamento da música “Dupla Face”, em prol de mais e melhor saúde mental em Portugal, que tem como objetivo maior sensibilizar a comunidade para a prevenção das perturbações de humor depressivas e bipolares e combater o suicídio. A referida música conta com a participação solidária dos músicos Mário Mata, José Cid, José Gonçalves Tavares, Fausto Bordalo Dias, Rogério Oliveira, Rogério Charraz, Sofia Vitória, André Varandas, Né Ladeiras, Bárbara Braga, Luís Oliveira, Helena Palma, Alexandre Reis, Ricardo Melo e vídeo de João Guimarães. Assim, neste artigo da nossa unidade voltamos a sensibilizar para esta doença.

O que é?
A Perturbação Bipolar é uma doença psiquiátrica crónica do humor. As perturbações do humor já há muito que são conhecidas, havendo descrições das variações do humor em escritos da Grécia e Pérsia antigas. Aretaeus de Cappadocia, médico de há mais de 2000 anos atrás, talvez tenha sido o primeiro a relacionar a depressão e a mania e a identificar a sua natureza cíclica. Vários autores do século XIX, com os seus estudos, lançaram o terreno para Emil Kraepelin, psiquiatra alemão, criar uma nova entidade nosológica, a Psicose Maníaco-Depressiva (actualmente designada de Perturbação Bipolar), que se distinguia de uma outra doença mental, a Dementia Praecox (actualmente denominada por Esquizofrenia), principalmente pelos seus modos de evolução.

Os estudos suportam que a Perturbação Bipolar é uma doença com uma prevalência ao longo da vida de 0,6-1,1%, constituindo ¼ de todas as Perturbações do humor. No entanto, a sua prevalência poderá estar subestimada dado as dificuldades no seu reconhecimento. Distribui-se de forma equivalente no homem e na mulher e surge mais frequentemente em idades jovens.

Estima-se que o risco de suicídio ao longo da vida entre pessoas com Perturbação Bipolar seja pelo menos 15 vezes superior ao da população geral, podendo ser responsável por um quarto de todos os suicídios consumados.

Quais as causas?
Tal como na Depressão, a Perturbação Bipolar é uma doença multifactorial, em que vários factores etiológicos genéticos, bioquímicos e sócio-ambientais, parecem interagir de maneiras complexas. Existe uma grande associação genética, sendo que os doentes apresentam história familiar em cerca de 2/3 dos casos.

Quais os sintomas?
A Perturbação Bipolar, perturbação do humor caracterizada por episódios recorrentes, subdivide-se em duas entidades diagnósticas. Perturbação Bipolar I e Perturbação Bipolar II. Em ambas ocorrem episódios depressivos major, mas no caso da PBI surgem também episódios maníacos e na PBII episódios hipomaníacos.

Dado em artigo anterior termos abordado os sintomas do episódio depressivo, descrevemos de seguida os sintomas dos episódios maníacos/hipomaníacos:

  1. Período distinto de humor persistentemente eufórico ou irritável, com marcado aumento da actividade e energia;
  2. Autoestima elevada ou sentimentos de grandiosidade;
  3. Diminuição da necessidade de dormir, isto é, dormir poucas horas sem que isso provoque cansaço.
  4. Falar mais, mais depressa e sob pressão;
  5. Sensação de pensamento acelerado e com muitas ideias por vezes pouco organizadas;
  6. Dificuldade em manter a atenção e distrair-se facilmente;
  7. Envolvimento excessivo em actividades com potencial elevado para consequências negativas, como gastos monetários excessivos, comportamentos sexuais de risco e envolvimento pouco pensado em negócios.

 

Estes episódios constituem uma mudança do funcionamento habitual da pessoa, observável pelos outros.

O que distingue o episódio hipomaníaco do maníaco é a intensidade, gravidade e consequências dos sintomas, podendo ocorrer nos episódios maníacos sintomas psicóticos, isto é, sintomas em que ocorre a perda do contacto com a realidade. Como exemplos temos as alucinações (o doente pode ouvir, sentir, cheirar ou saborear algo que na realidade não existe; por exemplo, ouvir vozes ou ver pessoas que não estão presentes) e as ideias delirantes (crenças ou ideias erradas, habitualmente relacionadas com os sentimentos de grandiosidade, como acreditar em ser capaz de grandes feitos ou ser uma pessoa ou entidade conhecida e importante).

Dado as potenciais graves consequências do episódio maníaco, muitas vezes é necessário internamento.

Pode haver também episódios em que há uma mistura de sintomas característicos dos episódios depressivos e dos episódios maníacos, designados por episódios mistos.

 

O que fazer se suspeitar de Perturbação Bipolar?

  1. Procurar ajuda assim que possível.
  1.  Deve deslocar-se ao centro de saúde e falar com o seu médico de família, que encaminhará a situação da melhor forma, nomeadamente encaminhando a pessoa a uma consulta de Psiquiatria. É necessário ser feita uma história clínica cuidada e especializada e realizados alguns exames para estabelecer corretamente o diagnóstico.
  1. Se o quadro apresentado for grave: depressivo com ideias de suicídio ou maníaco com sintomas psicóticos e alterações graves do comportamento, deve deslocar-se imediatamente a um Serviço de Urgência de Psiquiatria, no caso da área geográfica de Mafra, no Hospital de São José. Este serviço funciona todos os dias do ano durante 24 horas por dia.

 

Qual o tratamento?
O tratamento pode envolver o uso de medicação, educação sobre a doença (os seus sintomas, sinais de alerta das recaídas e implicações na vida do doente), aconselhamento, psicoterapia, apoio familiar e reabilitação (reintegração sócio-profissional)

O tratamento farmacológico divide-se no tratamento de fase aguda (tratamento do episódio agudo) e tratamento de manutenção (para evitar recaídas), habitualmente fármacos estabilizadores do humor.

 

Pode ainda obter informações e aconselhamento:
ADEB – Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares (www.adeb.pt).

 

Maria João Avelino
(Médica psiquiatra e Coordenadora Clínica da Unidade Comunitária de Psiquiatria de Mafra- Espaço  MESMO).

 

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