Crónica de Alexandre Honrado – A memória que nos esquece

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado A memória que nos esquece   Pierre Nora, historiador e editor (especializado na área das ciências sociais), diretor na École de Hautes Études em Sciences Sociales, afirmou um dia que “só se fala tanto de memória porque ela já não existe”. Diria eu, se é assim, daqui a nada não me lembro do que fez surgir a vontade de escrever isto. Mas até lá, aproveitemos. Penso eu que a memória apagada pela distância e votada ao esquecimento procura constituir um lugar onde ficam as coisas,…

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Crónica de Alexandre Honrado – Convicções

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Convicções   Era convicção de alguns, presos à sabedoria e à sofisticação sentimental que faz de uma besta um ser completo e capaz de ser melhor para um mundo já de si tão pródigo em ofertas, era convicção firme que o ser humano podia ser o animal perfeito, entre os animais que o rodeavam. Um cérebro mais amplo dotava-o de capacidades, sendo que duas delas podiam transcendê-lo e torná-lo ímpar e excecional: a capacidade de decidir, escolhendo entre os males o melhor que a todos…

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Crónica de Alexandre Honrado – Um prefácio sem vergonha

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Um prefácio sem vergonha   Não sei se cabe nestes textos que aqui faço a escrita de um prefácio. Mas a aventura de fazê-lo é superior ao risco de usar um espaço onde não devia fazê-lo. Se o faço é porque depois vou querer fazer mais e maior (talvez melhor). A desfaçatez com que o faço, ao prefácio, veio de duas fontes de inspiração: uma, a primeira, prende-se com relativas saudades dos prefácios de alguns livros, prosas capazes de rivalizar com o seu conteúdo ou…

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Crónica de Alexandre Honrado – Pagar portagem à inteligência

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Pagar portagem à inteligência   Apesar das habilitações ditas, talvez por ironia, literárias ou académicas, a verdade é que aquela rapariga não passa de uma cepa muito torta que se senta todos os dias na mesma pequena caixa metálica, a receber outras coisas metálicas, moedas, moedas de condutores anónimos, mal encarados, mal educados, ensonados, indiferentes, coitados. Condutores que pagam a portagem de uma forma direta, moeda a moeda, praguejando contra os aumentos e a vida. Ela, a rapariga da portagem, com outra vida parecida, mas…

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Crónica de Alexandre Honrado – Força de viver: a resistência

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Força de viver: a resistência   Apesar do regresso da barbárie – entenda-se, do vandalismo indiscriminado, da violência praticada na ausência do diálogo, da cultura da morte agitada nos meios de cultura massivos, para consumo coletivo, do regresso dos slogans da velha extrema-direita e demais gente, o novo talassa, gente arreigada ao anacronismo das datas, das ideias e dos conteúdos, já sem falar de uma imprensa maioritariamente conservadora e comprometida, e do triunfo das mais torpes distopias – há, por contradição, o crescimento de bolsas…

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Crónica de Alexandre Honrado – Apontamentos de Paris

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Apontamentos de Paris   O quotidiano vai já respondendo a uma dúvida inquietante: há uma nova cultura emergente, uma mescla sobrevivente que resulta da desvalorização do ser, isto é, de todos nós, e é efeito perene dos muitos declínios que permitimos e que nos negaram a eternidade. Não há progresso sem conhecimento, e essa cultura é a do desconhecido. É um borrão feito sobre camadas mais sólidas, um palimpsesto, se é que ainda alguém sabe o que isso é. Traduz a falta de critérios estéticos…

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Crónica de Alexandre Honrado – Pós-memória

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Pós-memória   Confesso-me profundamente desiludido, triste, empurrado pelo vento fabricado pelas máquinas ideológicas que escondem as brisas e os furacões que a natureza produz e oferece gratuitamente. Sempre achei que a inteligência, a cultura, a palavra, podiam aliar-se para benefício humano, contrariando séculos de barbárie e de ignorância, de soluções rudes, básicas e ignorantes, a resposta pela brutalidade, na ponta dos punhos e das armas. Era uma utopia minha que com o avanço histórico e cultural da Humanidade a humanidade se encontrasse, fizesse um acampamento…

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Crónica de Alexandre Honrado – Uma nova cultura que emerge

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Uma nova cultura que emerge   O quotidiano vai já respondendo a uma dúvida inquietante: há uma nova cultura emergente, uma mescla sobrevivente que resulta da desvalorização do ser, isto é, de todos nós, e é efeito perene dos muitos declínios que permitimos e que nos negaram a eternidade. Não há progresso sem conhecimento, e essa cultura é a do desconhecido. É um borrão feito sobre camadas mais sólidas, um palimpsesto, se é que ainda alguém sabe o que isso é. Traduz a falta de…

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Crónica de Alexandre Honrado – Cultivar para não banalizar

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Cultivar para não banalizar   “Banalizar a linguagem é banalizar o pensamento que ela veicula.” Teodoro Adorno (Adorno, 1999). Sabe-se hoje que na economia o peso da cultura é enorme – mesmo que o Orçamento Geral de Estado (quase) não a contemple, talvez pelo erro político habitual de que o Estado não sabe investir nem é bom gestor nas poucas áreas que lhe podem trazer retorno e notoriedade de curto, médio e longo prazo. Aliás, aprendemos que a expressão “economia da cultura” revela uma noção…

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Crónica de Alexandre Honrado – A cidade como metáfora viva


Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado A cidade como metáfora viva   Não gosto das cidades que me são dadas para viver e, no entanto, amo profundamente as cidades, as minhas cidades – e tenho várias, o que pode parecer pretensioso. Gaston Bachelard (Bachlard, 1996) dizia que “apenas o espírito é científico” e isso pode indignar os mais materialistas, os mais exatos, para usar uma expressão querida a alguns cientistas. O espantoso é descobrir, entendida a história do homem, que o verdadeiro valor para um pensamento ingenuamente elementar é a obsessão…

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