Crónica de Alexandre Honrado | É uma questão de sobrevivência, diria.

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

Crónica de Alexandre Honrado É uma questão de sobrevivência, diria.   Duas ideias, pelo menos, inscreveram-se nas minhas próprias formas de pensar. Foram captadas da mais recente visita de Edgar Morin, o sábio, a Portugal – em setembro deste ano corrente de 2023- , que as legou com a altivez de uma cultura acumulada em 102 anos de vida intensíssima, contrariada pela modéstia com que se partilha e encanta. Quero resgatá-las, antes que a inevitável destruição da memória imponha a angústia de um esquecimento irreparável. Eu, que sempre pensei dedicar-me…

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Crónica de Alexandre Honrado – Lágrimas Regam O Crescente Fértil

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

Lágrimas Regam O Crescente Fértil por Alexandre Honrado   Escrevi este texto em 2006, para um livro-catálogo do meu amigo fotógrafo de guerra Ângelo Lucas. Achei-o por acaso – e nada é realmente por acaso. Com as devidas desculpas, resgato-o ao tempo e elucido-me. O que se terá passado durante os 17 anos seguintes? O que piorou?   Santo Agostinho – no século V, onde isso já vai!!! – falava do fim dos tempos. Hegel, nos primórdios do século XIX, do fim da História. Nós, no século XXI, do fim…

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Crónica de Alexandre Honrado | Vivemos num mundo em insolvência

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Vivemos num mundo em insolvência A razão e a sentimentalidade cruzam muitas vezes a mesma ponte de vida, encontram-se num entroncamento único e, não se reconhecendo, seguem o seu caminho em direções opostas. Ocorre-me esta ideia ao ver o estado do mundo, esta insolvência, esta incapacidade patrimonial de satisfazer regularmente as próprias obrigações, a que condenámos um planeta exemplar que, no imenso cosmos, parece ter sido o único capaz de desenvolver-se até à criação de vida. É que os sintomas atuais são terríveis – e…

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Crónica de Alexandre Honrado | Vai ficar tudo bem

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Vai ficar tudo bem Foram meses fugazes aqueles em que o poder e a responsabilidade do mundo, estrangulados nas mãos dos mercados, voltaram aos Estados. Quase dois anos, marcados pelo pânico e pela ignorância, presidiram a essa estranha migração, mas a causa foi-se esbatendo, os negacionistas foram sorrindo como se tivessem razão, e a desorganização humana voltou ao que era. Sim, falo da passagem da Pandemia pelo planeta, falo da epidemia da COVID-19, tão absorvida pelos populistas, tão improvisada pela Democracia, tão receada pelos autoritarismos…

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Crónica de Alexandre Honrado | Um tema como os outros

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Um tema como os outros Já escrevi sobre cemitérios e já acrescentei muitos cemitérios à minha vida. Sei que é mais comum do que eu imaginava, outros somam mais cemitérios do que eu, por vezes dou comigo a conversar com os cemitérios dos outros, a trocarmos lágrimas que secaram em imensos pântanos nunca estagnados, a tratar os mortos como roupa resgatada de um baú, a imaginar histórias que por vezes ninguém viveu. Esses momentos fazem-me celebrar a vida com maior intensidade, e explicar-me o quão…

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Crónica de Alexandre Honrado | Sintomas do que temo

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Sintomas do que temo Há um encanto vago em ficar num lugar sem distinções, parar apenas e ficar a gozar a brisa, o sol que parece desconhecer como o ser humano alterou o planeta de maneira assassina, dourando a pele e aquecendo suavemente em esquecimento. Há um deleite nesse momento sem tempo, sabendo que mais tempo virá escoando-se, o tempo cai sempre num funil apertado e foge-nos como o passar assustado, a criança esquiva, o amor que não ficou. Não tenho muito para dizer nesses…

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Crónica de Alexandre Honrado | Visitações

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Visitações A emissão da televisão do Estado interrompe a intervenção da Reitora da Universidade Católica para ouvir um padre comentar, com muitos lugares-comuns, os dias que se vão vivendo. Eu sou apanhado desprevenido, mas não fico surpreendido. Há sempre nestes e noutros eventos uma cultura do atropelo e do desdém pelo que acontece, que não traz já nenhuma novidade aos que ainda gostam de saber as novidades. Das imagens à margem desta interrupção, só me ficou aquela em que Marcelo recebe o Papa e trata…

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Crónica de Alexandre Honrado | Um observatório de pouca coisa

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Um observatório de pouca coisa Cada pessoa que conheço revela-se para lá do que é. Talvez admita que é isso afinal o labirinto da sua intimidade, reforçando a minha convicção de que a identidade é uma ideia oca, porque a seu modo todos somos moldáveis, física, psíquica e espiritualmente mutantes, prisioneiros de ambições mais ou menos fantasiosas ou sofredores de crenças várias que moldam, mas não explicam, fornecem matéria de extrapolação, mas não identificam, muito menos uniformizam ou garantem uma identidade. Vamo-nos identificando, mas isso…

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Crónica de Alexandre Honrado | Kundera – A insuportável ideia da partida

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado kundera A insuportável ideia da partida Tive muitos escritores como meus heróis, nem sei se é essa a palavra exata, antes materializações de ideias novas contra as ideias feitas, alguém que me entrava pela cabeça e sem um único ruído me gritava assim, num eco que me ficava pelas veias, vá lá, por todo o sempre, se é que existe isso, o todo o sempre. Sempre dei graças aos livros e não concebo a ideia do seu desaparecimento, ou da prisão que pode constituir não…

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Crónica de Alexandre Honrado – Nunca estarei longe da cidade

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Nunca estarei longe da cidade   “Mas o esforço humano nunca se apaga totalmente, e velhos mapas de terras, de mares, do firmamento, dizem-nos como é profundo o domínio, o saber deste povo de que somos filhos legítimos, herdeiros e servidores simultaneamente: do hoje prisioneiro ao livre amanhã que ganharemos” Salvador Espriu in O Atlas Furtivo, de Alfred Bosch. (BOSCH, Alfred. O Atlas Furtivo. (2012). Lisboa: Livros do Brasil). Longe da cidade, evoco a cidade. Há tanto para dizer – eu próprio já disse tanto e, sobretudo, calei outro tanto.…

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