De ontem e de hoje | Relógios por Licínia Quitério Medir o tempo que passa, medir o tempo que falta, que nos falta, desde sempre foi um desafio, uma necessidade, uma tentação. E foi o Sol e foi a água e foi o vento e foi a areia e tudo e de tudo os homens se têm servido para melhor saberem calcular a medida de seus trabalhos, se possível a medida de seu tempo futuro. Pelos milénios havidos, foram os homens inventando e construindo instrumentos que de rudimentares passaram…
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Crónica de Licínia Quitério | Eclipses
De ontem e de hoje | Eclipses por Licínia Quitério Sabemos lá nós os desígnios da memória que nos assalta sem aviso. Foi num desses assaltos que dei comigo a recordar aquele tempo em que se falava de eclipses como de fenómeno algo misterioso, não isento de perigos desconhecidos para os humanos e até para os animais. A esse respeito contava-se que os cães uivavam e as galinhas se recolhiam para dormir à hora do eclipse, fosse qual fosse a hora do relógio. Em minha casa, o pragmatismo de…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Os parques
De ontem e de hoje | Os parques por Licínia Quitério Os parques das cidades e vilas assemelham-se a bosques em miniatura, sulcados por discretos lagos, semeados de flores das quatro estações, orgulhosos de uma ou outra escultura a espreitar por entre o verde, abençoados pelos cantos de pássaros, surpreendidos por pequenos mamíferos fugidios. Entusiasmados com a oferta de tais elementos, não faltam artistas que os pintem, fixando aquela cortina oblíqua de sol coado, o tapete de folhas multicolor, o banco, claro, o banco a servir de resguardo aos…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O Herlânder e a Neuza
De ontem e de hoje | O Herlânder e a Neuza por Licínia Quitério Hoje bateu-me à porta alguém vindo de um tempo em que todos eram velhos, uns mais do que outros, a não ser o Herlânder e a Neuza e todos os que eram novos como eu. Só os velhos, uns mais do que outros, é que não pulavam todo o dia e alguns ficavam muito sossegados nas cadeiras, com ou sem mesa, calados ou a conversarem. Lembro-me bem de um velho que nos dias de Sol…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Pastelaria Edite
De ontem e de hoje | Pastelaria Edite por Licínia Quitério Pastelaria Edite – era o que dizia o letreiro na cimeira da porta e montra. Um espaço acanhado para meia dúzia de mesas, um balcão ao fundo, em L, o lado menor junto à parede. Era exactamente aí que durante anos vi o senhor Pina a tirar bicas, em movimentos automatizados, a rodar o manípulo, a carregar no botão, a bater com força duas vezes, duas, o recipiente a despejar o café molhado e espremido. Os clientes, na…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Os meus dias da rádio
De ontem e de hoje | Os meus dias da rádio por Licínia Quitério Faz muitos anos que, menina que eu era, vivia fascinada pelo som que se soltava daquela caixa castanha e polida, com um vidro cheio de letras e números onde, rodando um botão, se fazia navegar, para trás, para diante, um ponteiro fininho, não mais do que um risco preto no vidro iluminado. Era o ponteiro ao parar que fazia ouvir falas de homem, de mulher, ou músicas, tocadas e cantadas. Eram os dias da rádio.…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Dantes é que era bom
De ontem e de hoje | Dantes é que era bom por Licínia Quitério “Naquele tempo a escola era risonha e franca…” Assim começa um poema que nos meus tempos de menina, meu Pai me deu a conhecer. Trago este verso com o propósito de reflectir nas relações havidas por cada geração com a aprendizagem do seu tempo. Naturalmente é a minha geração que me serve de amostra porque a observo nos abundantes ditos e escritos que citam e ilustram opiniões sobre escolaridade. É vulgar a crítica negativa à…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | A aldeia global
De ontem e de hoje – A aldeia global por Licínia Quitério A palavra “globalização” que inundou os vocabulários de todo o “globo”, pronuncia-se com cuidados redobrados, não vamos, apressados, saltar uma sílaba e desfeá-la ou torná-la intraduzível. Este arrazoado vem a propósito da observação recente de novidades de além mundo que, com a tal globalização, têm chegado aos lugares mais improváveis deste nosso país. Gente apelidada de migrante, perdida a bondade ou oportunidade de seus países de origem, chega, por caminhos impensados, a vilas e aldeias deste país…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Até ao meu regresso
De ontem e de hoje – Até ao meu regresso por Licínia Quitério Pelo meio de tantas memórias que enchem caixas, caixotes, baús, fui recordar os aerogramas, coisas que hoje já ninguém sabe o que são. Foi a guerra, talvez se lembrem, aquela devastadora guerra entre o governo de Portugal e os movimentos de libertação das colónias, que assim não podiam ser chamadas, mas províncias ultramarinas. Disfarces, eufemismos para catorze anos de sofrimento que queimaram corpos e sonhos de uma geração. Eram os aerogramas um papelito colorido que fazia…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Gatos
De ontem e de hoje – Gatos por Licínia Quitério Hoje vou falar sobre gatos. Sobre a minha relação com os gatos que ao longo da vida vêm partilhando comigo casa e comida, para não falar de discussões e brincadeiras. Quando nasci havia lá em casa um gato de que não me posso lembrar porque quando morreu eu ainda era inconsciente da vida que começava. Diziam os meus pais que era um animal meigo e que me dava marradinhas suaves. O primeiro gato que conheci de perto chamava-se Lince,…
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